Oeste conversou com o médico responsável por acompanhar o convênio entre a UFRJ e a prefeitura da cidade
Em abril deste ano, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, anunciou que a pasta estava iniciando um teste da eficácia do vermífugo nitazoxanida no tratamento da covid-19.
Naquele momento, a pesquisa teve mais repercussão pelo nome comercial, Anitta, e foi recebida com ceticismo por parte da comunidade científica.
Marcos Pontes, inclusive, contraiu a covid-19 e anunciou nesta terça-feira, 11, que está curado e que usou o remédio como voluntário do estudo clínico conduzido pelo governo.
“Participei como voluntário do estudo clínico. Também estou ansioso pela conclusão e resultado científico. Falta pouco se Deus quiser, mas ainda precisamos de voluntários”, destacou o ministro nas redes sociais.
Fora dos holofotes, no entanto, a cidade de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, tem conseguido resultados promissores com o uso do medicamento.
O médico e pesquisador Edimilson Migowski, professor de infectologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordena um convênio firmado entre pesquisadores da UFRJ, uma das mais respeitadas do Brasil, e a prefeitura da cidade.
O acordo já avançou e, para ser validado, precisa ser assinado pela reitoria da universidade.
Até o dia 11 de agosto, 1145 pacientes de alto risco foram tratados com o medicamento. Segundo Migowski, nenhum desses voluntários morreu, teve falência respiratória ou precisou ser internado.
Oeste conversou com o médico Edimilson Migowski sobre a condução do estudo:
Quais são os resultados preliminares com o uso da Nitazoxanida no tratamento da covid-19?
O tratamento precoce com a nitazoxanida para o novo coronavírus tem mostrado resultados práticos que me entusiasmam. Eu tenho nesse momento mais de 550 pacientes acompanhados com a covid-19, tratados no máximo até três dias depois de iniciados os sintomas, com resultados promissores. Até agora, apenas três internações, nenhuma falência respiratória, nenhum paciente evoluiu para o tubo ou para óbito, o que deixa a gente bastante entusiasmado e as evidências clínicas são claras.
LEIA MAIS: OS NÚMEROS DA COVID-19
Como o senhor avalia o anúncio feito pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, sobre os estudos realizados com a nitazoxanida?
A pesquisa que vem sendo conduzida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, em Brasília, envolve essa molécula, mas tem um desenho que eu não concordo muito, porque seria para pessoas com quadros de moderado a grave. Antiviral para doença infecciosa aguda, e esse é o caso da covid-19, para se ter o melhor benefício tem que iniciar o medicamento precocemente. Avaliar a nitazoxanida em paciente internado, grave e entubado não vai surtir o efeito. Você perde o momento para obter os melhores benefícios do medicamento.
O senhor defende o uso do medicamento de forma precoce. Por que?
Quando se usa um antiviral precoce em viroses agudas você diminui a replicação do vírus, portanto, diminui a carga viral e, consequentemente, a gravidade da doença. Existem vários trabalhos, tanto in vitro quanto in vivo e algumas experiências clínicas bem sucedidas com o uso da nitazoxanida em pacientes com a covid-19 desde que iniciem o medicamento precocemente. Não é uso profilático, é uso precoce.
Clique aqui e saiba mais sobre o tratamento precoce no combate à covid-19
A cidade de Volta Redonda assinou convênio com a UFRJ para tratamento de casos leves da covid-19. Como está a situação na cidade?
Hoje, Volta Redonda tem 145 pacientes de alto risco que já receberam o medicamento e, até onde fui informado, nenhum voluntário evoluiu mal. A evidência clínica aponta para resultados promissores. É importante destacar que se trata de um medicamento seguro utilizado por mais de 250 milhões de pessoas no mundo. O efeito adverso é basicamente dor abdominal, principalmente quando a pessoa não ingere o medicamento com as refeições. Tomar o remédio com alimentos aumenta a absorção e reduz os efeitos adversos. Vale a pena a administração desse medicamento já que em pessoas de alto risco a covid-19 costuma complicar com maior frequência.
Existe a expectativa de divulgação de resultados?
O convênio envolvendo o projeto da minha coordenação e a prefeitura de Volta Redonda já foi assinado pelo prefeito, tem minha assinatura como testemunha e está tramitando internamento na UFRJ. A procuradoria já fez a análise e encaminhou para a reitora, responsável por fazer a liberação, se estiver tudo correto. E nós fizemos tudo certinho.
Leia também: A solução que venceu a ideologia
Como o senhor vê a possibilidade de tratamento precoce com outras drogas, como a hidroxicloroquina?
Medicamentos como a hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e nitazoxanida vêm sendo utilizados de forma off label, não prevista na bula. De todos os medicamentos que vem sendo inciados na fase precoce da doença, a nitazoxanida é a que representa, para mim, o melhor potencial, já que tem quatro mecanismos de ação bem identificados em relação a esse novo coronavírus que causa a covid-19.