O advogado José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), assumiu a defesa de Renato Cariani em um caso penal na Justiça de São Paulo.
Renato Cariani, um influencer fitness de 47 anos, é réu em um processo por tráfico de drogas, associação ao tráfico e lavagem de dinheiro. Outras quatro pessoas são investigadas.
A acusação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) é de desvio de substâncias químicas da empresa de Renato Cariani, a Anidrol, localizada em Diadema, no ABC paulista, para a produção de entorpecentes. Segundo a denúncia, o grupo teria realizado 60 transações fraudulentas de produtos químicos para fabricar até 15 toneladas de cocaína e crack.
A Polícia Federal (PF) considera o empresário Fábio Spinola como o elo entre o influencer e o tráfico de drogas. Renato Cariani, por sua vez, nega as acusações. Uma investigação anterior do MP-SP encontrou um Porsche registrado em nome de Spinola em um imóvel ligado a Marcos Roberto de Almeida, conhecido como Tuta, ex-líder do Primeiro Comando da Capital (PCC).
A entrada de José Eduardo Cardozo na defesa de Renato Cariani foi comunicada à juíza Maria da Conceição Vendeiro, da 3ª Vara Criminal do Foro de Diadema, na quarta-feira 10. O processo foi recebido em fevereiro e ainda está em fase inicial de instrução.
Em entrevista ao portal Metrópoles, Cardozo afirmou que decidiu representar Renato Cariani porque acredita que o influenciador é inocente. “Estou convencido de que ele está sendo uma verdadeira vítima de um processo em que ilações infundadas têm prevalecido sobre a existência de provas”, argumentou.
Entenda a investigação
A PF deflagrou uma operação que tem como alvo um grupo suspeito de desviar produtos químicos. A investigação contou com a colaboração do MP-SP e da Receita Federal.
Um dos 16 alvos é Renato Cariani, que tem 7,4 milhões de seguidores no Instagram. Sócio de uma das empresas investigadas, o influenciador fitness afirma ter sido surpreendido com a operação. Ele disse ainda que não teve acesso ao conteúdo das investigações.
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Segundo o influenciador, a companhia foi fundada em 1981 e é controlada por sua sócia, de 71 anos. “Tem sede própria, todas as licenças, certificações nacionais e internacionais”, ressaltou, em vídeo divulgado nas redes sociais. “Trabalha totalmente regulada.”
Os detalhes da investigação contra Renato Cariani
A Polícia Federal afirmou ter identificado 60 transações fraudulentas, realizadas pelas empresas investigadas, em seis anos. Cerca de 12 toneladas de insumos, como fenacetina e manitol, teriam sido desviadas para células de organizações criminosas em São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Foram cumpridos 18 mandados de busca nesses Estados.
“Sabemos que esse produto, que é desviado, e essa droga, que é introduzida já com o ‘batismo’, digamos assim, é feita por meio de organizações criminosas”, disse o delegado Fabrizio Galli, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Superintendência Regional da PF em São Paulo.
Ele afirmou que as organizações criminosas que teriam adquirido os insumos ainda estão sendo investigadas, uma vez que existem “situações diferentes” do mercado da droga nos Estados que foram alvos da operação — em São Paulo, por exemplo, o narcotráfico é comandado pelo PCC.
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Ainda assim, a PF acredita que a relação dos desvios com o tráfico de drogas está clara, pelo que já foi apurado. “O produto investigado foi efetivamente desviado, e efetivamente esses produtos químicos de alguma forma foram usados para a adulteração e a ampliação da droga, que entrou em circulação em território nacional”, alega a corporação.
O delegado reforçou que a quantidade de droga que pode ter sido produzida depende do nível de pureza do “produto final”. “Pelo que a gente tem da perícia, os produtos [cocaína] têm mais ou menos entre 20% a 30% de pureza”, observou. “O resto são produtos químicos que aumentam o volume.”
Entre esses produtos estão justamente os insumos como os desviados no esquema, como fenacetina, lidocaína e manitol. Embora considerados lícitos em alguns mercados, eles são comumente usados para aumentar o volume de drogas, como a cocaína e, desse modo, catapultar o lucro das organizações criminosas.