Na manhã de 11 de agosto de 2005, o publicitário Duda Mendonça apareceu de surpresa no Congresso Nacional. Brasília vivia dias intensos, incendiada pela crise do mensalão. Duda se apresentou para falar espontaneamente à recém-instalada CPI dos Correios, a investigação precursora dos escândalos da era Lula. O depoimento durou dez horas.
Marqueteiro da vitoriosa campanha que levou o PT ao poder depois de três tentativas frustradas, Duda revelou que recebeu R$ 15,5 milhões do PT por meio de caixa dois — uma fatia da grana depositada em paraísos fiscais. O dinheiro fora repassado por Marcos Valério, cujo nome havia sido lançado no noticiário político-policial pelo deputado Roberto Jefferson. Era o “carequinha” que carregava as malas de dinheiro vivo para comprar os votos de parlamentares — o operador do mensalão. O que faltava era quitado pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Quem coordenava o propinoduto era o ministro mais poderoso da República: José Dirceu.
“Esse dinheiro era claramente de caixa dois, a gente não é bobo. Nós sabíamos, mas não tínhamos outra opção, queríamos receber”
Na tarde daquela quinta-feira, Duda implodiu a aura de honestidade do PT. Deixou deputados e senadores do partido atônitos. Os deputados Chico Alencar (RJ), Doutor Rosinha (PR), Walter Pinheiro (BA), entre outros, choraram no plenário. O mineiro Paulo Delgado foi um dos primeiros a pedir que os dirigentes da sigla pedissem perdão ao país. Horas antes, o presidente do PT, Tarso Genro, havia tentado tranquilizar a bancada sobre a existência do mensalão. “O que nós vamos dizer à militância? Esperamos que Lula diga à nação tudo o que sabe”, esbravejou Orlando Fantazzini (SP), um dos que abandonaram o partido nas semanas seguintes.
Os jornalistas que presenciaram a lamúria ainda viram a provocação do oposicionista Ney Lopes (PFL-RN) no plenário: “Estou assistindo ao velório do PT”.
Nos corredores do Congresso, os telefones celulares dos repórteres tocavam sem parar. Alvoroçadas, as direções de jornais, rádios e emissoras de TV tinham uma recomendação em comum: a oposição deveria ser questionada sobre um pedido de impeachment de Lula. Alguns líderes precisariam ser procurados: os senadores Jorge Bornhausen e Antônio Carlos Magalhães, do extinto PFL — que se metamorfoseou até virar hoje em dia algo chamado União Brasil —, os tucanos Tasso Jereissati e Arthur Virgílio, Roberto Freire (PPS) e o presidente do PMDB, Michel Temer. As redações em São Paulo ouviriam o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Essa história aconteceu há 17 anos. Um ano a mais do que têm de idade os jovens convocados pela esquerda a votar em Lula nas eleições de outubro.
É nessa faixa do eleitorado que não conheceu a maior engrenagem de corrupção já engendrada na máquina estatal que a esquerda aposta suas fichas. Para isso, mobilizou influenciadores digitais, artistas e professores em sala de aula; infiltrou bandeiras vermelhas em festivais de música; convenceu Anitta a pedir que seus amigos internacionais, como Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo, aderissem à campanha pelo cadastramento de eleitores adolescentes — ainda que nenhum dos dois saiba onde ficam Carapicuíba, Rondonópolis ou o Vale do Jequitinhonha.
A aposta da campanha de Lula é no voto sem memória.
Ovo da serpente
A crise do mensalão só terminou em 2012, depois de um julgamento que durou um ano e meio no Supremo Tribunal Federal (STF). Dos 40 acusados pelo então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, 26 foram punidos. Desses, 24 cumpriram penas efetivamente. O ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira conseguiu reverter a sentença em trabalho voluntário e o deputado José Janene morreu.
Àquela altura, as prisões de figuras graúdas do PT, como José Dirceu, José Genoino, ex-presidente da legenda, Delúbio Soares, tesoureiro da sigla, e João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara, pareciam representar um divisor de águas no combate à corrupção institucionalizada. Roberto Jefferson, Valdemar Costa Neto, Pedro Corrêa, banqueiros e operadores foram condenados a penas severas pela caneta do relator na Corte, Joaquim Barbosa — ainda que, naquela época, o revisor, Ricardo Lewandowski, já trabalhasse para melar as punições.
Ficaria célebre naquelas sessões o voto da ministra Cármen Lúcia sobre a tentativa de camuflar a compra de apoio e assumir só o uso de caixa dois. A tese fora elaborada pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos para disfarçar uma roubalheira maior em curso. A oposição topou.
“Acho estranho e grave que alguém diga: houve caixa dois. Ora! Caixa dois é crime, é uma agressão à sociedade brasileira e compromete, mesmo que tenha sido só isso! Fica parecendo que ilícito no Brasil pode ser praticado e tudo bem”
Supremo entra em campo
O que o brasileiro jamais imaginava é que o mensalão era só a ponta de um esquema de corrupção como método de governança. A descoberta do sistema de compra de votos em dinheiro vivo — muitas vezes sacado na boca do caixa de agências bancárias — deu lugar a um consórcio sofisticado. O petrolão, maior assalto ao Erário já descoberto no Brasil, estava a todo vapor sangrando os cofres da Petrobras.
Em 2014, um grupo de investigadores de Curitiba perseguia o doleiro Alberto Yousseff, numa operação batizada de Lava Jato. O nome fazia referência a um estabelecimento de fachada para lavagem de carros num posto de gasolina em Brasília, onde também funcionava uma casa de câmbio. O fio dessa apuração levou a Polícia Federal até Paulo Roberto Costa, diretor da Petrobras.
Enrolado até o pescoço com evidências de desvio de dinheiro, Costa foi preso e decidiu falar. Na época, foi pressionado pela família, especialmente pelas filhas, a assinar um acordo de colaboração para não passar anos atrás das grades. Havia ainda o temor de que elas fossem presas também.
A delação de Costa foi um rastilho de pólvora que durou sete anos e levou a mais de 160 condenações de políticos, gigantes do meio empresarial, lobistas, empreiteiros, operadores e doleiros. A Lava Jato recuperou R$ 15 bilhões. Os próprios investigadores do esquema afirmam que esse valor não chega à metade do que foi surrupiado.
Nesse capítulo da novela policial, emergiu a figura do juiz Sergio Moro, responsável pelas condenações da Lava Jato e pela prisão de Lula em abril de 2018. No ano em que Jair Bolsonaro derrotaria o projeto de poder do PT nas urnas, Moro era uma estrela nas ruas. Tratado como herói, viu sua popularidade explodir e resolveu trocar a magistratura pela política — escolha que se tornaria a mais errada da carreira.
Em 2017, Moro havia condenado Lula no caso do tríplex no Guarujá (SP) pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. A decisão não só foi confirmada em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, como os magistrados aumentaram a pena para 12 anos e um mês de cadeia. A condenação em primeira instância por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do sítio de Atibaia aconteceu quando o ex-presidente já estava atrás das grades.
Lula passou 580 dias numa cela gourmet na sede da Superintendência da Polícia Federal no Paraná. Nesse período, recebia visitas com frequência, manteve regalias, continuou fazendo política e até arrumou uma namorada. Foi solto pelo Supremo Tribunal Federal em novembro de 2019, quando a Corte determinou que criminosos só poderiam ser presos depois de o caso ter tramitado em julgado — e não mais depois da condenação em segunda instância —, contradizendo uma decisão de fevereiro de 2016 do próprio Tribunal.
Nos anos seguintes, os mesmos ministros togados — a maioria nomeada pelo PT — anulariam as condenações de Lula por supostas falhas processuais. Dos 11 processos, ele foi absolvido em apenas três. Os outros oito, contudo, foram malandramente encerrados, suspensos ou as acusações prescreveram. E o petista pôde voltar às urnas. A corrupção institucionalizada que tomou conta do Brasil durante os mais de 13 anos de governo do PT — um partido que sempre seguiu as ordens de Lula — jamais pode ser esquecida.
Leia também “Lula versão 89”
Parabéns, Sílvio Navarro! Temos visto discursos e atos tresloucados que acabam ocupando espaço na imprensa séria e diminuem a exposição do histórico do ex-presidiário. Felizmente a população está cada vez mais politizada e imune a essas inúteis tentativas!
parabens Silvio, contra fatos nao há argumentos, pena que meus sobrinhos não querem ver a verdade. Tenho esperança que ao ler este resumo maravilhoso, mudem de ideia.
Excelente artigo. Parabéns. Por isso Bolsonaro tem que ser reeleito já no primeiro turno em outubro deste ano.
Ué!!! Cadê aqueles dois petistas-psolistas “infiltrados” aqui na Oeste p’ra dar os “deslikes”?!!!
Kkkk!!
Pois é Silvio, mesmo sabendo do ativismo de Fachin com a militância do PT, nossa grande decepção foi Sergio Moro que após ter as condenações de Lula julgadas por ele e mais 2 instâncias, “descondenadas” por Fachin por incompetência do fórum de Curitiba para julgar os processos que condenaram Lula, assim se manifestou sobre Fachin: “repudio ofensas, ataques pessoais ao ministro Edson Fachin, do STF, MAGISTRADO TECNICO e com ATUAÇÃO DESTACADA na Lava Jato. Qualquer discordância quanto a decisão deve ser objeto de recurso não de perseguição.
Quanta tolerância de Moro com Fachin e intolerância com Bolsonaro, o chefe do único poder que reconheceu seus méritos e o convidou para o importante Ministério da Justiça e Segurança”. Pior ainda foi entender que seriamos idiotas e aceitaríamos suas contundentes agressões a Bolsonaro, ao seu ministério e também a sua afilhada de casamento a deputada Carla Zambelli ao entregar para a Globo correspondências em whatshapp com esta elegância e irresponsabilidade: “Prezada, eu não estou a venda”. Simplesmente porque Carla desejava que permanecesse no governo e que procuraria incentivar o presidente a indica-lo para o STF. Qual o caráter dessa gente do Judiciário com essa soberba?
Parabéns, Navarro! Vamos divulgar sua matéria maciçamente em todas as redes sociais.
Obrigado Fernando! Abs
Graças a jornalistas como você, o Brasil nunca esquecerá desses fatos!
Obrigado Jose Carlos! Abraço
O que é que está faltando pra nós acreditarmos cegamente, hoje, nessa justiça e nesse PT ?
Excelente resumo. Esse artigo deveria ser compartilhado a vontade por nos assinantes. Recordar os fatos como aqui narrados, e com a linha do tempo é extremamente educativo.
Lula, PTralhas e esquerda nunca mais!
Luladrão continua ladráo
Os jovens podem não ter vivenciado esta sujeira toda, mas bastaria se interessar mais na historia para constatar o que esta quadrilha fez para o país.
Tomara que os mais jovens que não se informaram destes fatos na época, seja por serem muito jovens seja por “não se interessarem por política”, leiam e entendam o que a nação passou. Com isso talvez não façam bobagem que poderão pagar caro no futuro.
Que belo texto Navarro .
Obrigado Marilza!
Excelente resumo! Obrigada!
Só falta agora a Suprime Corte prender toda população brasileira
Excelente e importantíssima matéria, que deveria ser incluída nos livros escolares. Parabéns Sílvio, Parabéns, Parabéns.
Sensacional reportagem!! Excelente!! Bem didática. Expõe a podridão dessa quadrilha chamada PT
Deixem liberada e fixada!
Obrigado Alexandre!
Obrigado Beatriz!
A Grande Imprensa, em diversas ocasiões, esconde e distorce os fatos.
Sensacional a matéria! Parabéns!
Os jovens “Nem-Nem” jamais viram isso.
Valeu Fábio!
PQP!!!
Os jovens, convocados a votar na eleição desse ano, além de serem recém nascidos na época da explosão dos maiores escândalos de corrupção da história, não recebem qualquer informação dessa triste quadra da vida nacional nos bancos da escola, onde docentes alinhados bovinamente com a esquerda se ocupam de incutir as doutrinas comunistas e ensinam a garotada a não pensar nem questionar os seus dogmas mofados.
ÓTIMA LEMBRANÇA, SILVIO!!! A MOLECADA PRECISARIA VER ISSO E MAIS UMA COISA, A FALTA DE UMA PUNIÇÃO SEVERA, COM O DINHEIRO PÚBLICO, DEU NO QUE DÁ!!!
O fato de o stf ter libertado o mafioso-mor do país através de decisões totalmente imorais só fez AUMENTAR a rejeição do povo honesto do Brasil a esse câncer terminal de nossa política. Diariamente a mera presença desse mau elemento na midia, ameaçando o povo com sua vingança, é um tapa na cara de todos nós que sustentamos esses inimigos da Pátria.
COM A GRAÇA DE DEUS, FAREI 72 ANOS EM 20/12 PRÓXIMO. NUNCA, EM TODO ESSE TEMPO, VI O BRASILEIRO TÃO DESINFORMADO, IGNORANTE E ALIENADO COMO AGORA. OS JOVENS, PRINCIPALMENTE ELES. DESCONHECEM POR COMPLETO A REALIDADE ATUAL, A HONESTIDADE E OS VALORES MORAIS COMO VIRTUDES, PARÂMETROS. COM ESSE PERFIL, COMO SABERÃO DISCERNIR O QUE É CORRETO E O QUE É ERRADO, NA HORA DO VOTO ??? POBRE BRASIL …
Correto!Mas por isso precisamos dos votos dos informados, dos conscientes. Essa é uma das razões pela quais vc não deve abrir mão de seu voto, mesmo não sendo obrigado a votar por sua idade.
Liberem a divulgação massiva desse artigo!!!
Muito bom artigo! Como seria salutar se as gerações mais novas, fossem informadas quer pelos seus familiares quer por educadores honestos, quer por imprensa independente desses fatos verídicos, que foram levados ao conhecimento da nossa sociedade em passado recente, não superior a 30 anos !!!!!!
Obrigado Nilton!
Excelente artigo ! cabe aos pais orientar seus filhos (as) , o que representa a esquerda nesse país, na figura do Lula ladrão .
Obrigado! Abraço
Parabéns pela reportagem, esse é um dos motivos pelo qual foi feita propaganda maciça para que jovens acima de 16 anos tirassem o título. Com os lacradores à frente.
Obrigado! Abraço
Obrigado Baldu! Abraço