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Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 130

A Falha e o Tubo

Um dia esse jornal se encontrou com uma plataforma livre. Segue-se o diálogo travado entre os dois grandes veículos

Guilherme Fiuza
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Era uma vez um grande jornal isento chamado Falha de Sapê. Um dia esse jornal se encontrou com uma grande plataforma livre chamada O Tubo. O encontro se deu numa esquina escura da internet. Segue-se o diálogo travado entre os dois grandes veículos, a Falha e o Tubo, segundo uma fonte:

— Opa.

— Fala aí.

— Tô te esperando há um tempão.

— Desculpe. Perdi a hora censurando uns vídeos.

— Pelo menos fez o trabalho direito?

— Claro. Botei todos na sombra, pra ninguém encontrar.

— Isso é muito mais legal que remover, né?

— Muito mais. O autor fica com a ilusão de que tá falando pra um monte de gente e o vídeo dele não aparece pra ninguém ahahaha!

— Ahahaha!

— E lá no jornal? Resolveram aquele problema dos especialistas?

— Totalmente resolvido.

— Que bom. Ninguém mais tava acreditando naquele “dizem especialistas”, né?

— Tem sempre uns trouxas que acreditam em tudo. Mas era hora de mudar.

— Como é que vai ser agora?

— “Diz leitor”.

— Como assim?

— O “dizem especialistas” restringia muito, porque mal ou bem a coisa tinha que ser verossímil.

— Saquei. Genial!

— Não é? Com o “diz leitor” a gente pode falar qualquer barbaridade sem aquela chatice de ter que parecer fundamentado.

— Liberdade de expressão.

— No caso, liberdade de impressão.

— Perfeito. E ninguém reclamou que pra publicar o que o leitor diz não precisava do jornal?

— Ninguém. O pessoal recebeu como democratização do jornalismo.

— Eles compram qualquer coisa, né?

— Qualquer coisa.

— Falando em comprar: trouxe a muamba?

— Claro. Tá aqui.

— Mas não foi bem isso que a gente combinou.

— Foi o que deu pra arrumar.

— Mas faz o mesmo efeito da outra?

— Praticamente. Esse veneno realmente não resolve na hora, mas asfixia aos poucos.

— Ah, então por um lado é até melhor, né?

— Também acho. Você queria uma reportagem inventando um crime, pra poder riscar o fascista do mapa. Isso a gente não conseguiu fazer, estou com equipe reduzida.

Se eles mudarem pra Pingos nos Js acho que não teria o mesmo alcance, né?

— Muita gente de férias?

— Não. No curso de checagem.

— É bom esse curso?

— Uma porcaria. Mas a gente ganha pra fazer essa “capacitação”, aí não dá pra reclamar.

— Depois é só repetir a cartilha do patrocinador nas matérias.

— Exatamente. Claro que não precisava de curso pra isso, mas não custa nada cumprir o ritual ahaha.

— Ahaha.

— Então o que eu te trouxe é o seguinte: uma reportagem mostrando que você favorece os fascistas.

— Eu??!!

— Sim, você.

— Logo eu que vivo cortando cabeça e silenciando essa gente?

— É. No início você vai parecer mal na foto, mas logo todo mundo vai entender o jogo e te elogiar.

— Por quê?

— Porque você vai aproveitar a reportagem que eu te trouxe como justificativa pra sabotar aquele elemento mais perigoso. Não é isso que você quer?

— É. Mas como eu vou explicar o meu “favorecimento” a ele?

— Não precisa explicar. Quando você travar o canal dele, a alegria na patrulha vai ser tão grande que ninguém vai se lembrar do motivo.

— Será?

— Bom, você me disse que estava com dificuldade de boicotar esse elemento perigoso pela audiência enorme dele, que ia dar na vista. Estou te trazendo o pretexto. O resto é contigo.

— Tem razão. Obrigado. Mas posso te fazer mais um pedido?

— Manda.

— Será que algum daqueles intelectuais afetados que escrevem na Falha poderia fazer uma crítica ao alfabeto?

— Hein?

— Nem seria criticar o alfabeto inteiro. Só fazer um ataque filosófico à letra “i”.

— Como assim?

— Dizer que o “i” tem uma função subliminar de dominação das minorias pela elite branca e deveria ser banido da língua portuguesa.

— Acho que consigo sim. Posso saber pra quê?

— Pra acabar de vez com o elemento perigoso. Se eles mudarem pra Pingos nos Js acho que não teria o mesmo alcance, né?

— Bem pensado. Com certeza não. E sem o “i” a palavra Pingos também ficaria inviável.

— Isso. Atacaríamos em duas frentes.

— Deixa comigo. Vou pedir aos intelectuais aqui da Falha que pensem também numa proposta revolucionária para a substituição do “i” nas outras palavras.

— Que tal um punho cerrado?

— Genial! Você também é um intelectual. Quer escrever na Falha?

— Obrigado, não tenho tempo. Muito vídeo pra censurar.

— Imagino. Então boa sorte com a tesoura por um mundo melhor!

— Sucesso com as fake news de grife!

— É nóis!

— O certo é “nós”.

— Eu sei. É jeito de falar.

— Tá, mas vai procurando outro jeito porque nós vamos acabar com o “i”.

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17 comentários
  1. Ronan de Oliveira
    Ronan de Oliveira

    Genial o Fiuza!

  2. Silvio Mateus De Souza
    Silvio Mateus De Souza

    Seria engraçado se não fosse verdade.

  3. Jorge Apolonio Martins
    Jorge Apolonio Martins

    Fiúza, seu danadinho, você aprontou de novo, né? Kkkkkkk….

  4. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Está ficando redundante, mas não dá para não falar: Fiuza, você genial e sarcástico como sempre. Agora, cuidado para que não peguem as ironias e queiram pôr em prática. Não dê ideais para essa gentalha.

  5. Adelmo Sérgio Pereira Cabral
    Adelmo Sérgio Pereira Cabral

    Genial..; ops desculpa, qu()s d()zer gen()al.
    Desculpa também por esse ponto final, po() va() ser entend()do como (….) nos ()s

  6. Aeduardo
    Aeduardo

    SensacJonal, grande F_uza !

  7. Paulo Ferreira
    Paulo Ferreira

    Adorei Fjuza!

  8. Claudia Bocco Vilaça
    Claudia Bocco Vilaça

    Grande Fiuza, bravo!

  9. Nara Rosangela Rodrigues
    Nara Rosangela Rodrigues

    Genial, como sempre, Fiúza!

  10. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Essa mídia é tão ridícula que não percebe que a era da cibernética chegou e eles estão virando pó. A única esperança é cheirá-lo

  11. Eduardo Levin
    Eduardo Levin

    Sensacional

  12. Andrea Vidal
    Andrea Vidal

    Esse consórcio está morrendo de inveja não só do sucesso dos Pingos nos Is, da explosão de audiência e tal, mas se rasgando pq vcs são completamente livres para dizer oq realmente acham, não estão limitados a uma agenda, como eles, escravos da panfletagem e polícia do bom e honesto jornalismo.

  13. Célio Andrade Jr
    Célio Andrade Jr

    A ironia irrita ainda mais os pseudos jornalistas petistas da #folhalixo, que não toleram o bom jornalismo da Jovem Pan e dos Pingos nos Is. Querem censura-lo a qualquer custo. Não conseguirão. 😀😀😀😀

  14. Osvaldo Nogueira
    Osvaldo Nogueira

    SOCAOPAUFIUZA●

  15. Alex
    Alex

    Inspirado Fiuza.

  16. Paulo Fernando Vogel
    Paulo Fernando Vogel

    É Fiuza, a coisa tá cada vez mais negra, digo, preta, digo, cor de burro quando foge. Eles não vão desistir de voltar a nos assaltar, ainda mais agora nestes tempos de regressão de pena e de incapacidade de solucionar os crimes (dizem que só 2% são resolvidos)!

  17. José Márcio Pereira De Souza
    José Márcio Pereira De Souza

    Grande Fiuza. Na mosca

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