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Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 140

Eleição à la carte

"O nosso sistema eleitoral é perfeito. O do Butão também, assim como o de Bangladesh"

Guilherme Fiuza
-

— Candidato, o senhor quer aproveitar essa oportunidade que eu estou lhe dando generosamente e dizer a um Brasil de audiência que vai reconhecer a sua derrot… quero dizer, que vai reconhecer o resultado da eleição?

— Vou reconhecer o resultado se a eleição for limpa.

— Candidato, está provado que as eleições são limpas.

— Como assim?

— Isso mesmo que o senhor ouviu: está provado que as eleições brasileiras são limpas.

— “São”?

— São.

— Mas as eleições nem aconteceram ainda, como você sabe que elas são limpas?

— Porque eu sei. Entendo disso. Fui eu mesmo que fiz a pauta do telejornal.

— Ah, tá. Mas e se der algum problema? Não existe sistema perfeito, né?

— Existe sim. O nosso sistema eleitoral é perfeito. O do Butão também, assim como o de Bangladesh.

— Você falando assim eu fico até aliviado.

Ilustração: Schmok

— Se eu fosse você não ficava.

— Por quê?

— Nada. Esquece. Coisa minha. Vamos continuar a sabatina.

— Pois não.

— Candidato, por que o senhor não aproveita essa oportunidade que eu estou lhe dando generosamente e admite para um Brasil de audiência que o outro candidato é muito melhor?

— Porque eu não acho.

— O senhor não se acha arrogante, agressivo e antidemocrático querendo derrotar um candidato que todo mundo acha melhor que o senhor?

— Todo mundo, quem?

— Ah, todo mundo: a MPB, o STF, os grandes bancos, nós… quer dizer… nós, não. Nós somos absolutamente isentos. Nossa missão é informar.

— Eu já notei.

— Que bom, candidato. Com o senhor espalhando desinformação, alguém tem que informar, correto?

— Que desinformação eu espalhei?

— Que as eleições não são limpas.

— Eu não disse isso. Disse que quero que as eleições sejam limpas. Você é que está dizendo que elas são limpas antes delas acontecerem.

— E são mesmo. Está provado.

— Provado por quem?

— Pelo Barroso, pelo Fachin e pelo Alexandre de Moraes. Ele até disse que teve que engolir a derrota do Corinthians pro Internacional mesmo tendo sido roubada, então todo mundo vai ter que engolir o resultado dessa eleição.

— Não entendi. Quer dizer que roubo não se discute?

— Não. Quer dizer que quem perde tem que calar a boca. Perdeu, mané.

Os ministros do STF Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes | Foto: STF/Divulgação

— E o que isso tem a ver com eleição limpa?

— Cala a boca. Perdeu, mané.

— Como perdi, se a eleição ainda não aconteceu?

— Olha as pesquisas.

— A eleição vai ser tão limpa quanto as pesquisas?

— Com certeza. Tudo impecável, irretocável, inexpugnável, inexorável, implacável, inatacável, inquebrantável, insolúvel, inquestionável…

— O que é isso que você tá lendo aí?

— O dicionário. Na letra i tem um monte de palavra bonita. Sempre que quero botar mais ênfase e falar balançando a cabeça pro meu topete se mexer abro o dicionário na letra i.

— Interessante.

— Também é com i, mas não acho uma palavra tão forte, por isso não usei.

— Certo. Acabou a sabatina?

— Não. O senhor ainda não reconheceu que as eleições serão limpas.

— É porque as eleições ainda não…

— Candidato! Pare de desinformar. Pare de atentar contra a democracia. Pare de atacar a imprensa. Pare de atacar o judiciário. Diga logo que as eleições são limpas e não amola.

— Como podem ser consideradas limpas se não são auditáveis?

Fake news! Candidato, você e o seu gabinete do ódio inventaram essa história de voto auditável para tentar roubar a eleição.

— Roubar? É justamente o contrário…

— Cala a boca! O senhor já falou demais aqui. Nem sei por que estou te dando tanto espaço. Até me arrependi da minha generosidade.

— Tá bom. Vou embora. Mas se depois da eleição algum técnico encontrar problemas nas urnas que não são auditáveis posso voltar aqui pra comentar?

— Isso é impossível, candidato. As eleições são limpas. Pare de tentar dar o golpe.

— Transparência é golpe?

— Quando mostra o que não deve, é.
— Ah, agora que entendi a lógica.

— Você é um pouco lento.

— Sem dúvida.

— Tão lento que fica querendo disputar uma eleição que já perdeu ahaha. Desculpe, me empolguei.

— Sem problemas. Transparência é tudo.

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14 comentários
  1. Vicente Rodrigues Oliveira filho
    Vicente Rodrigues Oliveira filho

    Houvi o general tomas de Paiva dizer que os técnicos do exército auditaram as eleições e que esteve tudo OK ! Não acharam nada que implicasse em indícios de fraude ! Deve ser porque eles receberam o código fonte das urnas de antes de 2020 e não comentaram com ninguém. Esse general podia fornecer esse código fonte pra que outras instituições isentas auditassem a apuração dos votos pra tranquilizar todo o povo racional da nação!! Seria uma boa maneira de pacificar o país!!!

  2. Roberto Fakir
    Roberto Fakir

    Muito bom

  3. Júlio Rodrigues Neto
    Júlio Rodrigues Neto

    Perfeito, Fiúza.

  4. Moacir Pirondi
    Moacir Pirondi

    Fiuza, você é genial.

  5. MARCOS VINICIO ILDEFONSO DA CUNHA
    MARCOS VINICIO ILDEFONSO DA CUNHA

    Olá revista fiz a assinatura mas tenho tido dificuldade no acesso apesar de email e senha estarem corretas.

  6. Jose Carlos Rodrigues Da Silva
    Jose Carlos Rodrigues Da Silva

    Grande Guilherme Fiuza, é assim mesmo, um belo diálogo com os “perdeu mané”

  7. Zulimar Marrara
    Zulimar Marrara

    Fiúza, Lemos vc com prazer, mas por causa da ironia que vc usa tão bem, sei que muita gente simples não conseguiria entender seu texto. Uma pena . Mas acredito que vc sabe disto. Mesmo assim, obrigada. Lavei a alma . Pronta para vencer essa guerra.

  8. Jorge Apolonio Martins
    Jorge Apolonio Martins

    Fiúza, você é Impagável. Kkkkkkkkk…

  9. Benjamin Gonzalez Martin
    Benjamin Gonzalez Martin

    Só tenho nojo dessa gente.

  10. Márcia Maciel de La Rocque Almeida
    Márcia Maciel de La Rocque Almeida

    Perfeito Fiúza!

  11. María Aparecida Pinto Figueira
    María Aparecida Pinto Figueira

    E UM PRAZER LER O FIUZA. COM SEU ESTILO IRONICO BRILHANTE ESMAGA AS CABECAS DOS CORRUPOS DAS TOGAS E A IMPRENSA COVARDE E VENDIDA.

  12. Luiz Antônio Alves
    Luiz Antônio Alves

    O judiciário fundiu nun só os esquemas de funcionamento do SNI, DOPS, Gestapo, KGB e foro de São Paulo. Jà foi alertado por alguma forma de vida: o STF ainda irá instituir a prisão perpétua e a pena de morte sem consultar o Congresso ou mudar a CF. Claramente se sabe que o primeiro a ir ao paredón é o Bolsonaro daqui a alguns meses. Depois seus seguidores principais para diminuir as bancadas eleitas e após os jornalistas e até mesmo os leitores que comentam aqui na revista. Existe uma organização que não está aparecendo, mas se não houver mais traições (como diz a Bíblia e a História Universal) a partir de fevereiro poderemos ter impechments de ministros e durante o primeiro semestre outro impechment de presidente da república. O Fora Lula! Aliás, a democracia brasileira funciona com degolas. E é uma guerra declarada e a direita não estava preparada como a esquerda para combates duros. As reuniões noturnas em porões e sigilosas poderão acontecer novamente, embora guerrilheiros experientes já estejam manipulando e controlando a ação de pessoas embuídas de salvar a pátria… Como diz um vizinho meu: os motoristas devem perturbar mais um pouco e deixar estradas com 1000 ou 2000 caminhões parados em cada ponto. É só fechar o caminhão com chave ou via satélite, abandonar o veículo e fazer lanche longe. Quero ver alguma autoridade desimpedir as estradas com falta de logística. Quantos guindastes terão que ser usados para retirar 1000 caminhões de um ponto, como na entrada de um porto ou de uma cidade grande?
    Ah, isto tudo que escrevo é um estilo literário, tá?

    1. Alzira Conceição Pacheco de Lima
      Alzira Conceição Pacheco de Lima

      Consultar o congresso pra quê? Aquilo só serve para onerar os cidadãos que trabalham, ou melhor, os manés.

      1. Antônio Ângelo Mazzaro
        Antônio Ângelo Mazzaro

        Me lembrei do livro 1984: se eu te disser que dois mais dois são cinco, você tem que aceitar, seu fascista!!

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