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A Jovem Pan sofreu campanhas difamatórias do grupo de esquerda | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Reprodução
Edição 202

O ocaso da milícia digital

Financiado por bilionários de esquerda e outrora apoiado pelo Judiciário, o Sleeping Giants começa a sofrer derrotas na Justiça e a ver seu apoio político desaparecer

Edilson Salgueiro
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Em 12 de dezembro de 2020, um casal de universitários do interior paranaense deixou o anonimato para perseguir os holofotes da fama. À época, Leonardo de Carvalho Leal e Mayara Stelle, de 22 anos, eram apenas estudantes de Direito na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Durante a leitura de um estudo sobre fake news, tiveram a ideia que poderia transformá-los em popstars: criar um perfil nas redes sociais para combater a disseminação de notícias falsas. Inspiraram-se em um grupo norte-americano de esquerda que pressionava as empresas a cancelarem seus patrocínios em veículos de comunicação de direita. Em maio daquele ano, surgiria o Sleeping Giants Brasil. 

O palco de estreia dos novos astros da internet foi escolhido a dedo: a Folha de S.Paulo, que também iniciara sua cruzada contra supostas fake news. Na ocasião, Leonardo e Mayara revelaram à jornalista Mônica Bergamo que haviam reduzido em R$ 1,5 milhão as receitas publicitárias de três sites e dois canais. Jornal da Cidade Online, Conexão Política, Brasil Sem Medo, Sara Winter e Olavo de Carvalho foram as primeiras vítimas. Mais de 700 anunciantes debandaram.

De lá para cá, o Sleeping Giants usou o prestígio do consórcio de imprensa para estrangular os jornais e as revistas que não rezam a cartilha do politicamente correto. A Gazeta do Povo, a Revista Oeste e a Jovem Pan — esta última de maneira avassaladora — tornaram-se alvo dos canceladores. As três seguem resistindo, a despeito da chantagem contra seus patrocinadores.

Mayara Stelle e Leonardo de Carvalho Leal, idealizadores do Sleeping Giants | Foto: Divulgação/UEPG

Segundo o jornalista e mestre em comunicação Fábio Bouéri, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a campanha difamatória dos militantes digitais é uma resposta política à ascensão da direita. “Sob o falso pretexto do combate à desinformação, a esquerda persegue veículos resistentes às suas pautas e, com um estranho apoio do Judiciário, usa o estrangulamento financeiro como forma objetiva de coerção”, disse o comunicador.

A relação do Sleeping Giants com o Supremo Tribunal Federal (STF) é antiga. Em setembro do ano passado, por exemplo, Mayara palestrou em um evento promovido pela Corte sobre “o combate à desinformação”. Ela estava em um painel liderado pelo ministro Alexandre de Moraes.

Em seu discurso, Mayara defendeu as práticas do grupo e alegou que a liberdade na internet é “romantizada”. Isso a torna uma “terra sem lei”, acrescentou a militante.

Três meses antes do evento, Moraes contrariou a Procuradoria-Geral da República (PGR) e arquivou um inquérito da Polícia Civil de São Paulo que investigava o grupo ativista por prática do crime de difamação contra a Jovem Pan. 

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Sede de poder

Para ter uma ideia, o Sleeping Giants exibe gráficos interativos nas redes sociais para mostrar os valores retidos dos veículos de comunicação. Até o momento, o grupo bloqueou cerca de R$ 140 milhões em patrocínios. Mais de 1,5 mil empresas foram alvo de chantagem, e 1,1 mil sucumbiram à pressão.

Até o momento, o grupo bloqueou cerca de R$ 140 milhões em patrocínios | Foto: Divulgação/Sleeping Giants

No site oficial, por exemplo, Leonardo e Mayara admitem que pretendem “regulamentar” as redes sociais e exercer influência na política e na iniciativa privada através da “advocacy”, isto é, do lobby. O grupo externa que seus advogados circulam pelo Executivo, pelo Legislativo e pelo Judiciário para promoverem suas pautas.

Exemplo desse ativismo político ocorreu em maio de 2023. Na ocasião, os perfis do Sleeping Giants criaram diversas campanhas pela aprovação do Projeto de Lei nº 2.630/2020. Em resumo, o texto de autoria do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) prevê a regulação das publicações nas redes sociais e na internet. Apesar do esforço, a pauta acabou escanteada.

Como retaliação, o Sleeping Giants acionou a Justiça contra o Google, o Twitter/X, o Facebook, o Instagram, o Telegram e o Spotify, que se manifestaram contra a proposta. O grupo militante considerou ilegítimo o posicionamento das big techs, acusando-as de suposta prática abusiva. Queria impor aos gigantes de tecnologia uma multa de R$ 1 bilhão. O juiz Marcelo Augusto Oliveira, da 41ª Vara Cível da Justiça de São Paulo, extinguiu a ação.

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“O que pretende a instituição, em verdade, sob a falsa roupagem de defesa dos consumidores, é interferir no funcionamento dos serviços das empresas requeridas, para que seja prestado de acordo com sua ideologia e seu viés político”, sustentou o magistrado.

O advogado constitucionalista André Marsiglia endossa a mesma tese e argumenta que a campanha das big techs era lícita. “Pedir que plataformas se abstenham de divulgar e promover conteúdos contra a aprovação do PL 2.630 é impedir sua expressão livre”, afirmou.

Um negócio milionário

A mobilização do Sleeping Giants nas redes sociais e na política chamou a atenção do público. Isso porque o grupo militante é obra de dois jovens que, há quatro anos, trabalhavam como motorista de aplicativo (Leonardo) e vendedora de maquiagem (Mayara). Perderam o emprego durante a pandemia de covid-19, em virtude das medidas restritivas impostas pela prefeita Elizabeth Schmidt (PSD). Naquele ano, viveram do auxílio emergencial concedido pelo governo Jair Bolsonaro (PL), um de seus alvos prediletos.

De acordo com o relatório da Open Society Foundation, os militantes digitais brasileiros receberam US$ 400 mil (R$ 2 milhões) em 2022

A penúria deu lugar ao luxo apenas dois anos depois. Entre 2022 e 2023, o Sleeping Giants recebeu aproximadamente R$ 2,5 milhões da Ford Foundation e da Open Society Foundation, esta última controlada pelo bilionário de esquerda George Soros.

As duas entidades financiam organizações não governamentais (ONGs) em diversos países para a promoção de pautas “progressistas”, como o aborto, a descriminalização das drogas e a disseminação da ideologia de gênero.

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De acordo com o relatório da Open Society Foundation, os militantes digitais brasileiros receberam US$ 400 mil (R$ 2 milhões) em 2022. A fundação alega que desembolsa esse montante para construir “democracias vibrantes e inclusivas”.

Na mesma linha, a Ford Foundation divulgou o envio de US$ 100 mil (R$ 500 mil) para o Sleeping Giants Brasil em 2023. A doação teria o objetivo de ajudar no “combate à desinformação, às notícias falsas e ao discurso de ódio em plataformas digitais”.

As cifras também chamaram a atenção dos políticos. Em 27 de janeiro, os senadores Marcos Rogério (PL-RO) e Rogério Marinho (PL-RN) acionaram o Ministério Público Federal (MPF), o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Receita Federal contra o Sleeping Giants. Os parlamentares cobram uma investigação sobre o montante recebido pelos militantes digitais.

“É preciso que as instituições e as entidades do Brasil reajam de maneira firme”, disse Marcos Rogério, no Twitter/X, ao explicar a importância da investigação. “Queremos ver se há algo ilícito, alguma utilização indevida dos recursos e possíveis improbidades”, acrescentou Rogério Marinho.

Sinal de alerta

Também no mês passado, o Sleeping Giants sofreu uma derrota no Judiciário. A defesa tentava reverter uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), proferida no início de janeiro, que condenara os ativistas pelo crime de difamação contra a Jovem Pan.

Com a decisão, o grupo militante vai indenizar a emissora em R$ 20 mil e terá de excluir todas as postagens difamatórias nas redes sociais. O desembargador Gilson Delgado Miranda considerou que a campanha contra a Jovem Pan afronta a imagem e a honra da empresa.

O advogado criminalista Alan Fehér Zilenovski lembra que a Constituição dá o direito de liberdade de expressão e de crítica, mas considera que o Sleeping Giants ultrapassa os limites. “A imputação de fatos que extrapolam a crítica e que resvalam para ofensa à imagem e à honra da empresa através de afirmações depreciativas pode configurar crime contra a honra”, resumiu. “São passíveis de responsabilização nas esferas penal e cível.”

A recente derrota na Justiça pode representar uma mudança nos rumos do grupo militante. Isso porque o Sleeping Giants estava acostumado a obter respaldo absoluto do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Algo que gradualmente está deixando de acontecer.

A decisão do TJ-SP, por exemplo, contrasta com as deliberações de Moraes — ministro mais próximo de Leonardo e Mayara e entusiasta de políticas de controle nas redes sociais. O Senado também ensaia uma debandada e aguarda as investigações do MPF, do TCU e da Receita Federal. A Câmara dos Deputados, outrora simpática aos métodos do grupo, sentiu-se desprestigiada com a ausência de seus fundadores em uma audiência pública na Casa Baixa. O encontro estava marcado para setembro de 2023.

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Resta ainda a simpatia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que mantém relações cordiais com os influenciadores que endossam as pautas do governo. O perfil de fofoca Choquei, por exemplo, responsável pela onda de difamação que resultou no suicídio de Jéssica Vitória Canedo, de 22 anos, é um dos principais aliados do petista nas redes sociais. Lula e Sleeping Giants, críticos das fake news e da cultura do cancelamento na internet, mantiveram-se em silêncio diante da tragédia que abateu a jovem. Ambos dizem combater o discurso de ódio, que atribuem constantemente à direita. Quando se depararam com uma prática criminosa de seus pares, ignoraram o assunto. Como se ninguém estivesse assistindo.

Leia também “O mundo dos negócios entra em campo”

9 comentários
  1. Valesca Frois Nassif
    Valesca Frois Nassif

    Muito estranha e obscura a trajetória desse casal. Que voltem ao mesmo ostracismo de onde vieram. Excelente artigo ! Parabéns !

  2. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    O mundo está de ponta cabeça.
    A esquerda mundial busca todas formas, principalmente as ilícitas, impor à margem da lei e da ordem uma agenda para atender seus espúrios interesses.
    PT / PCO / STF / Rede Globo / Folha de SP / MST – também nascido em solo paranaense / Felipe Neto / “artistas” Rouanet / nano mísseis / etc são criminosos que prestam desserviço à sociedade.
    Não podemos baixar a guarda e deixar essa turba de delinquentes agirem livremente.

  3. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Excelente matéria. Esse tipo de gente precisa ser exposta mesmo. Se escondem atrás de perfis de rede social para praticar delitos.

  4. Reginaldo Silva dos Santos
    Reginaldo Silva dos Santos

    Esses dois vermes deveriam estar num calabouço escuro e fétido. Os tais “defensores da democracia ” e ” baluartes da verdade ” são um amontoado de desgraçados mentirosos.

  5. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Bota essa esquerda toda no xadrez e vamos fazer uma limpa nesss país

  6. RODRIGO DE SOUZA COSTA
    RODRIGO DE SOUZA COSTA

    Agora eles tem rostos, vieram do nada e ajudaram a tirania. Feito o trabalho sujo, voltarão ao ostracismo.

  7. Ana Kazan
    Ana Kazan

    Estranho que um motorista e uma vendedora de maquiagem de repente tenham virado gênios dos meandros da internet, da manipulação política, da estatística, das finança e tenham ascendido aos altos postos do governo. Muito estranho.

  8. Rosangela J . Dias
    Rosangela J . Dias

    Dois idiotas uteis.

  9. Joao Pita Canettieri
    Joao Pita Canettieri

    “*GUARATINGUETÁ SP BR*” #AcordaBrasil – Um DESgoverno. Como diz a Ana Paula *TRANCA A PAUTA*

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