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Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 218

Quem vencerá a disputa entre a indústria e o povo?

O PL e o PT se unem numa improvável aliança para tentar derrubar o aumento da taxação das compras internacionais de até US$ 50

Carlo Cauti
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O zoológico de Brasília ganhou mais um jabuti. O PL do Mover, que deveria conceder incentivos fiscais para a indústria automotiva, vai levar junto o aumento da taxação das compras internacionais de até US$ 50.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, já sacramentou que da semana que vem não passa. Vai ter imposto, sim, sobre as famosas “brusinhas” compradas em sites como Shein, AliExpress e Shopee.

Governo quer; Congresso, não. Depois troca

O governo Lula tentou cobrar impostos das compras internacionais desde o primeiro dia de mandato. Entretanto, a resistência da opinião pública e do Congresso e a impopularidade da medida o fizeram recuar.

A taxação das compras internacionais voltou à tona com a desoneração da folha de pagamentos. Desesperado para encontrar nova arrecadação, o Executivo reapresentou a ideia de onerar os produtos internacionais.

Todavia, agora as coisas parecem ter se invertido. O Congresso quer aplicar novos impostos, enquanto o presidente Lula já declarou que vai vetar novas taxações.

Loja on-line da empresa chinesa Shein | Foto: Shutterstock
Lobby fala mais alto

O lobby das indústrias de vestuário no Brasil foi mais forte do que a resistência dos consumidores. E o relator do PL do Mover, deputado Átila Lira (PP-PI), incluiu o jabuti em seu texto.

Aliado do presidente da Câmara, que tem o mesmo sobrenome, o relator está apenas negociando qual tipo de tributação será cobrado. A alíquota deverá passar dos 60% iniciais para 17%.

Mas que a taxação ocorrerá é considerado pacífico nos corredores do Congresso.

Santa aliança contra os impostos

O mais incrível de tudo é que contra esse jabuti se formou a mais improvável das alianças: o PL e o PT votarão juntos para tentar derrubar a proposta.

Entretanto, mesmo com essa “santa aliança” contra os impostos entre as duas maiores bancadas do Congresso, a tributação das compras internacionais deverá ocorrer. Para o centrão não é um problema aprovar a medida. E a pressão da indústria e dos sindicatos contribui para que os deputados votem pela taxação.

“A disputa disso está muito mais entre a indústria nacional, querendo se proteger, e a simpatia de 100 milhões de brasileiros que não querem que taxe”, explicou, salomônico, o senador Jaques Wagner, líder do governo no Senado.

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Enel
Concessionária Enel | Foto: Reprodução/Wikimedia Commons
O Silveira que não gosta dos contratos

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, lançou mais uma ofensiva verbal contra a Enel. Desta vez ameaçando a empresa caso não realize os investimentos que o governo quiser.

“A Enel terá que provar que está disposta a fazer investimentos nas três concessões no país. Ou ela muda, adere às novas regras, ou então sai do Brasil”, disse em entrevista.

Mais uma vez o ministro parece esquecer que a Enel assinou um contrato plurianual para gerenciar a distribuição de energia elétrica em São Paulo, Ceará e Rio de Janeiro. E que as únicas regras válidas são aquelas lá escritas.

Assim como a eventual perda da concessão, também muito bem disciplinada por contrato e blindada de eventuais arbitrariedades políticas do Executivo.

Faz cara feia antes do encontro

A declaração ocorreu poucas horas antes da reunião entre Silveira e uma delegação da Enel que chegou diretamente da Itália para encontrar o ministro.

E, só para tentar parecer mais duro, contemporaneamente ao encontro, o Ministério de Minas e Energia enviou para a Casa Civil novas regras para os contratos de concessão das elétricas, que limitam a distribuição de dividendos ao mínimo previsto na Lei das SAs caso as empresas descumpram os índices de qualidade.

O grande timoneiro

O presidente Lula é o “timoneiro que entregará um país muito mais justo”. Essa foi a definição que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, fez de seu chefe.

“Assim que Lula entende por bem fazer qualquer mudança de rota, tem que ser respeitado na sua decisão”, disse o ministro, traduzindo para o português.

Que o atual governo brasileiro tinha forte simpatia pelo regime chinês era fato público e notório. Mas que o presidente Lula fosse comparado a Mao Tsé-tung, o “Grande Timoneiro”, é novidade.

Ministro de Alexandre Silveira, de Minas e Energia, em leilão na quarta-feira, 27 de setembro: 'A Petrobras deve renegociar com as refinarias que foram privatizadas, para que ela possa readquirir essas refinarias' | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Está proibido falar em interferência

Segundo o ministro Silveira, não existe interferência do governo à Petrobras.

“A palavra ‘intervencionismo’ é completamente inadequada no caso da Petrobras, porque o investidor, quando compra a empresa, sabe quem é o controlador”, explicou.

Ou seja, quem comprou ações da Petrobras o fez por seu total risco e perigo.

Not with my money, amigo

Quem não gostou nada dessa brincadeira foram os gringos, que compraram bilhões de dólares em ações da Petrobras e não estão nem um pouco dispostos a ser ludibriados.

Os investidores estrangeiros esperam a aplicação da lei. Na quinta-feira, 23 de maio, véspera da confirmação, pelo Conselho de Administração, de Magda Chambriard na presidência da Petrobras, acionistas estrangeiros da estatal se articulavam para tentar convocar uma assembleia geral extraordinária (AGE) para submeter a mudança de comando à Lei das Estatais.

O objetivo é forçar uma nova eleição dos conselheiros eleitos por voto múltiplo.

Jean Paul Prates, ex-presidente da Petrobras | Foto: Reprodução/Agência Senado
Minoritários irritados

Os acionistas brasileiros minoritários também estão organizando uma resistência à decisão do governo.

Segundo o Instituto Empresa (IE), instituição que tem como objetivo proteger os acionistas minoritários de casos como esse, a substituição de Jean Paul Prates no comando da Petrobras se configuraria como mais um elemento de exercício abusivo do poder de controle.

Para a entidade, é evidente que Prates foi demitido e que apenas formalmente renunciou. Essa manobra não só tornou possível uma substituição do presidente da companhia sem a eleição de um novo conselho, como também permitiu que conselheiros que não atendiam aos requisitos de governança fossem mantidos.

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Governo escorrega na disciplina fiscal

Depois de meses de complacência com o governo Lula, o mercado financeiro mudou de humor e entrou de vez na modalidade desconfiança.

Um recente relatório da Wells Fargo mostrou que a taxa básica de juros (Selic) não vai baixar mais até 2025 por causa da política econômica do Executivo. “O governo Lula demonstra escorregar na disciplina fiscal, o que pode ser exacerbado pelo desastre natural em partes do país”, salientou a Wells Fargo.

Segundo o banco americano, “a volatilidade da moeda brasileira aumentou ao longo das últimas semanas, o que pode alimentar a inflação de serviços”.

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Galpão da fábrica da Embraer em Taubaté, em São Paulo (21/11/2020) | Foto: Leonidas Santana/Shutterstock
Embraer das Arábias

A Embraer vai desenvolver a estratégia do ecossistema aeroespacial da Arábia Saudita.

A empresa brasileira assinou um memorando de entendimento (MoU, na sigla em inglês) com o Centro Nacional de Desenvolvimento Industrial do país árabe e o AHQ Group. O documento prevê o fornecimento de aeronaves brasileiras, cooperação tecnológica, cadeia de fornecimento e desenvolvimento de capital humano.

No futuro, o objetivo é avaliar capacidades industriais e novas oportunidades de negócios.

Leia também “Prates deixa a Petrobras entre lágrimas e aplausos”

3 comentários
  1. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    O lobby da indústria e os novos impostos que o povo terá que pagar ao desgoverno são uma dupla imbatível.

  2. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Alexandre Silveira tem até a cara de vigarista. Pilantra é ele…

  3. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Eu tava pensando em 2 mísseis russo satan-2, mas pensando bem é melhor 3, porque um no STF, outro no Palácio do Planalto com a presença não só de Ali Babá mas com a presença dos 40 ladrões e um para o congresso, depois de tirar os direitistas raiz

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