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Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 233

Burrice artificial

Chatbot do Google, Gemini espalha mentiras a respeito da Revista Oeste e ignora problemas com outros veículos de comunicação

anderson scardoelli - pb - perfil - 12122024
Anderson Scardoelli
-

Em um de seus projetos voltados para a imprensa brasileira, o Google assume publicamente o compromisso de “ajudar o jornalismo a prosperar na era digital”. Na prática, a big tech esqueceu de repassar essa promessa para a sua própria plataforma de inteligência artificial (IA). Quem usa o robô de conversas Gemini para fazer perguntas a respeito da Revista Oeste é obrigado a ler afirmações imprecisas ou simplesmente mentirosas.

No domingo, 1° de setembro, quem perguntasse ao Gemini se Oeste era confiável, receberia como resposta uma mentira. Num primeiro momento, o chatbot, sem apontar evidências, acusou Oeste de fazer uma cobertura “tendenciosa”. O serviço ainda garantiu que a empresa “já foi alvo de críticas por disseminar informações falsas ou enganosas”. A fonte para tais afirmações? As ditas agências de checagem.

Durante a “conversa”, a IA do Google insistiu no erro. Diante da alegação de que Oeste trabalha com fatos — e não com informações falsas —, o Gemini resolveu listar três exemplos de conteúdos que supostamente confirmariam a divulgação de conteúdos enganosos. Dois desses casos foram sumariamente desmentidos, com dados e informações, em reportagem publicada na Edição 55 (leia “Checadores de ideias”). O equivocado chatbot ainda cravou que Oeste teria divulgado “que o então presidente Jair Bolsonaro teria sido alvo de um complô para impedi-lo de concorrer à reeleição em 2022”. Isso nunca aconteceu.

Registro do evento realizado em fevereiro de 2024, quando o Google apresentou ao mercado o chatbot Gemini
Gemini, IA do Google, espalha mentiras a respeito da Revista Oeste | Foto: Divulgação/Google

Logo depois de apresentar exemplos que não se sustentam na realidade, a inteligência artificial aproveitou para se autoelogiar: “Meu objetivo é fornecer informações o mais precisas e imparciais possível, levando em consideração diferentes perspectivas e fontes.”

O ChatGPT adota postura diferente da do Gemini em relação à Revista Oeste. Diante da mesma pergunta (“Você classifica a Revista Oeste como um veículo de comunicação confiável? Sim? Não? Por quê?”), a resposta foi bem diverente. Segundo o chatbot da OpenAI, a publicação promove “tanto reportagens factuais quanto artigos de opinião”. Sinaliza, ainda, que a linha editorial não torna o veículo menos confiável. 

A falsa informação falsa

O Gemini admitiu que adota postura que pode prejudicar o modelo de negócios da empresa. “Minhas respostas anteriores podem ter sido vistas por um número significativo de usuários”, avisou. “Lamento qualquer impacto negativo que elas possam ter causado à reputação da revista.”

A forma como o Gemini define Oeste aos internautas não é um caso isolado em relação ao Google. A plataforma de vídeos mantida pela big tech, o YouTube, suspendeu por mais de um ano a monetização do canal de Oeste. E até hoje não há explicação oficial para essa decisão. “Conteúdo nocivo” foi a única alegação, sem a indicação de qual material teria sido classificado dessa forma. Atualmente, a conta de Oeste no YouTube soma 2,1 milhões de inscritos.

Captura de tela do aviso de janeiro de 2023, quando o YouTube resolveu desmonetizar o canal da Revista Oeste na plataforma
Sem maiores explicações, o YouTube, plataforma de vídeos que pertence à big tech Google, puniu com desmonetização o canal da Revista Oeste | Foto: Reprodução/YouTube

O mesmo Google que acusa um veículo de comunicação de propagar informações enganosas e atua em prol de sua desmonetização é aquele que repassa cifras milionárias às chamadas agências de checagem. Em 2022, por exemplo, a big tech entregou mais de US$ 13 milhões à Rede Internacional de Checagem de Fatos. O site Aos Fatos, que se apresenta como um projeto especializado no “combate à desinformação”, avisa que teve projeto financiado pelo Google, além de já ter prestado o trabalho de consultoria para o gigante de tecnologia. Aos Fatos, a saber, já tachou como “informação falsa” mais de uma notícia verdadeira de Oeste.

Elogios a outros veículos

Enquanto espalha mentiras a respeito de Oeste, a plataforma de inteligência artificial do Google demonstra simpatia a outros veículos de comunicação. É o caso do jornal Folha de S.Paulo. O Gemini define a publicação como “amplamente considerada um veículo de comunicação confiável”. Não há nenhuma vírgula a respeito de polêmicas recentes veiculadas pela Folha: promoveu a conselheiro editorial o colunista que externou o desejo pela morte do ex-presidente Jair Bolsonaro; manteve no ar o artigo em que uma colaboradora que associou o Estado de Santa Catarina ao nazismo; publicou como sendo falas do técnico de futebol Luiz Felipe Scolari uma entrevista feita com um sósia dele; fora o resto.

A IA do Google também tem respostas positivas sobre a confiabilidade de Aos Fatos. De acordo com o Gemini, a agência que tem histórico de perseguir Oeste deve ser considerada um “veículo de comunicação confiável”. “Imparcialidade” e “parcerias com outras organizações respeitadas”, com destaque para acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, foram alguns dos itens listados pelo serviço de inteligência artificial.

No ar desde março de 2020, a Revista Oeste é totalmente transparente em seu modelo de negócios. Não aceita — e nunca aceitou — dinheiro público

Em relação à Rede Globo, o bot é mais contido. Elenca tópicos a favor e contra a confiabilidade do canal. No geral, contudo, cita de modo genérico que a emissora “cometeu erros e se envolveu em polêmicas” e ressalta que ela “possui uma equipe de jornalistas experientes e uma infraestrutura que permite cobrir eventos nacionais e internacionais de forma abrangente”.

Não há menção ao Caso Escola Base. Em 1994, a partir de uma reportagem da Globo, o casal dono do colégio infantil localizado na zona sul da cidade de São Paulo, uma professora e um motorista, foi falsamente acusado de abusar sexualmente de alunos. Detalhe: em 2022, a Globo resolveu faturar com o histórico erro e lançou um documentário sobre o tema, com a íntegra disponível somente aos assinantes do serviço de streaming Globoplay.

Internautas lembram que a TV Globo foi o primeiro veículo a noticiar o Caso Escola Base | Foto: Reprodução/YouTube
Internautas lembram que a TV Globo foi o primeiro veículo a noticiar o Caso Escola Base | Foto: Reprodução/YouTube
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As mentiras do Gemini

Enquanto define de modo positivo veículos como Folha, Aos Fatos e TV Globo, o Gemini segue com a propagação de mentiras a respeito de Oeste. No intervalo de apenas dois dias, a avaliação da IA do Google piorou em relação à credibilidade. Ao repetir na terça-feira 3 a mesma indagação feita no domingo, a inteligência artificial insistiu no erro.

A verdade sobre Oeste

No ar desde março de 2020, a Revista Oeste é totalmente transparente em seu modelo de negócios. Não aceita — e nunca aceitou — dinheiro público, a chamada publicidade estatal. Oeste é financiada pela comunidade de assinantes e por anúncios oriundos de empresas da iniciativa privada.

Tal postura difere Oeste das demais empresas de comunicação do país. Do mesmo grupo da TV Globo, o jornal O Globo, por exemplo, recebeu, em 2023, R$ 900 mil de campanhas publicitárias da Secretaria de Comunicação da Presidência da República e de ministérios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme o site Poder360. A Folha não ficou muito atrás, com R$ 694 mil de faturamento no ano passado somente com publicidade do governo federal.

Em respostas do Gemini sobre a credibilidade da Folha e do Globo não constam, no entanto, observações de que receber dinheiro público poderia levantar questões sobre possíveis conflitos de interesse e influências internas em sua linha editorial.

“O Gemini foi projetado para seguir instruções da melhor maneira possível, sem transmitir uma opinião ou conjunto de crenças em particular”, afirmou a equipe de comunicação do Google, em sucinto comunicado divulgado no início da noite desta quinta-feira, 5 — 50 horas depois das perguntas serem enviadas pela reportagem. “O Gemini pode apresentar informações imprecisas. Continuaremos aprimorando nossos modelos com base no feedback dos usuários.”

Pelo jeito, o juiz Airton Vieira, auxiliar do ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal, não é o único a querer “usar a criatividade” no intuito de prejudicar a Revista Oeste.

Em casos assim, vale o alerta de Augusto Nunes, colunista e conselheiro editorial de Oeste: “A verdade desmaia, mas não morre nunca”.

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Leia também “Entrevista com o ChatGPT”

12 comentários
  1. Edmar Simplício da Silva
    Edmar Simplício da Silva

    Manipulação nas redações, nas telas, a promessa de uma IA completamente confiável, vou me manter ao lado da Oeste, pois pelo que vejo nada mudará.

  2. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Essa tal IA deve ser a materialização dos personagens da obra 1984 de George Orwell.
    Em trabalho conjunto com as empresas de checagem colocam o que desejam em suas páginas como verdade absoluta e incontestável.

  3. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Com exceção de Elon Musk nada do que venha das big techs não merece credibilidade nenhuma. Muito menos dessas “agências de checagens” que não checam coisa nenhuma e ainda ganham dinheiro para mentir, perseguir, prejudicar quem faz um trabalho sério como a Revista Oeste. Vida longa a Revista Oeste.

  4. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    As eleições municipais já estão fraudadas. Lula diz as asneiras que quiser não afeta nada, um sujeito inútil. O problema é o STF que faz o que bem entende, basta não concordar

  5. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Muito bom, Anderson.
    Gemini nada mais é que seres humanos por trás, que delegam no Brasil a gente conluiada com a imprensa do consórcio que recebe dinheiro público para falar o que o governo manda.

  6. Marbov
    Marbov

    Eu uso a OpenAI para buscar artigos acadêmicos e tenho obtido resultados muito satisfatório sem polêmica ou tendência ideologica, puramente cientifica e até filosofica. Recomendo no lugar da Gemini

  7. Marbov
    Marbov

    O banco de dados do Gemini é formado pela garotada woke que já tem uma linha de pensamento exclusiva e autoritária desconexa da realidade cultuada por uma visão de mundo baseado na utopia de um mundo perfeito sem pais nem filhos e familias mixas de pets e humanos

    1. Johnny Bravo
      Johnny Bravo

      kkkk no alvo

  8. Denis R.
    Denis R.

    Totalmente esperado. Querem ver um paralelo? Tentem se informar sobre política através das páginas da Wikipédia, dá até asco de ler. Por outro lado é bem bacana conversar com as IAs sobre assuntos os quais conhece… Já apertei o Chat GPT algumas vezes! rs. Apesar do viés de esquerda ela procura ser razoável e minimamente lógica nas respostas. Pelo menos com este tipo de “inteligência” ainda dá para dialogar!

  9. Fernando Tadeu Penha Moreira Guimarães
    Fernando Tadeu Penha Moreira Guimarães

    Fica de alerta para quem quer usar IA para tudo e acreditar nela piamente. Uma vez usei o chatgpt pra resolver uma questão de engenharia e no fim acabei tendo de corrigi-lo pois o método dele estava errado e induzia ao erro!

    1. Emilio Sani
      Emilio Sani

      IA ainda é propaganda enganosa, não existe. O que existe é uma capacidade computacional imensa e de simular falas humanas “medíocres” por dominar a capacidade de formar frases e utiliza uma plataforma mundial de dados de onde utiliza a tendencia da maioria, e portanto, fica automaticamente demonstrado como o mundo infelizmente está dominado pelo esquerdismo infantil…

    2. Emilio Sani
      Emilio Sani

      ps.:o chatgpt erra tudo em matemática a ponto de escrever fórmulas que eram corretas para uma solução de um problema e depois dava um resultado numérico que não correspondia ao valor da fórmula apenas para concordar com o número que eu havia dito que era a resposta correta, e que não era…é apenas uma máquina de frases e de dar desculpas quando se aponta os erros, e como dá desculpas, sempre bem esfarrapadas

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