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Edição 40

Os extraterrestres estão chegando

Reconhecer que não estamos sós e que podemos não ser os mais evoluídos nos dá nova perspectiva

Dagomir Marquezi
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O que lhe vem à cabeça quando se fala em vida extraterrestre? O monstro gosmento de mandíbula dupla dos filmes Alien? O cabeçudo simpático com uma luz na ponta do dedo do filme E.T. — O Extraterrestre? Você pensa nas orelhas pontudas do doutor Spock em Star Trek? Ou em Sonic, o veloz ouriço-azul do video game? Lembra os bons selvagens de Avatar? Ou os impiedosos caçadores de cabelo rastafári da série Predador?

Quando imaginamos um alienígena para estrelar uma obra de ficção, tendemos naturalmente a projetar nossos temores e esperanças. Pensamos em seres assustadores, matadores cruéis e babões. Ou em seres irresistíveis sem nossos defeitos.

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Como será então um ser extraterrestre de verdade? A questão mais importante aqui é a simples aceitação de que existam seres em outros planetas. A ideia de que a vida seja um privilégio da Terra e que nós, os humanos, somos as únicas criaturas inteligentes num universo de 1.000.000.000.000.000.000.000 (ou 1 trilhão de bilhões) de estrelas nem deveria ser levada a sério.

Em 1995, os astrônomos suíços Michel Mayor e Didier Queloz descobriram a existência do 51 Pegasi b, mais tarde batizado de Dimidium. Ganharam o Nobel de Física pelo feito. Foi a primeira prova científica da existência de um exoplaneta (isto é, um planeta fora do sistema solar), rodando em órbita da estrela 51 Pegasi, na constelação de Pégaso. Exoplanetas não pararam mais de ser descobertos. Já foi comprovada a existência de mais de 4.300 em apenas 15 anos.

Até agora a possibilidade mais aceita para confirmar a existência de seres alienígenas era esperar que um disco voador pousasse na pracinha da esquina e de lá saísse um sujeitinho verde com antenas na testa. Era o modo “passivo” de responder a uma das mais importantes questões de toda a história da humanidade.

Agora decidimos ir atrás. E estamos muito próximos de comprovar que não estamos sós. É muito provável que a primeira prova de vida fora da Terra seja a imagem microscópica de uma bactéria sem graça. Mesmo assim, esse momento será um marco na história da humanidade. Como se costuma dizer, não é mais uma questão de se, mas de quando.

Calcula-se que exista vida desde a primeira infância do universo, há 13,8 bilhões de anos. Hoje a astronomia usa o termo “zona habitável” para descrever as regiões cósmicas onde podem existir planetas com condições para gerar vida. Como se diz na Nasa, a agência espacial norte-americana: “Quer saber se um planeta é habitável? Procure saber se tem água”.

Como vimos na Edição 33, no artigo “Um drinque na Lua”, pesquisas recentes mostraram que pode existir muita água até num satélite aparentemente estéril. Naves diversas já estão a caminho de Marte com foco em buscar sinais de água e vida. Em 2013 a Nasa captou a possível existência de um lago na cratera Gale.

Até na infernalmente quente Vênus, onde na superfície o chumbo se derreteria a 460 graus Celsius, cientistas captaram a presença de um gás chamado fosfina (mistura de hidrogênio com fósforo). O gás está 55 quilômetros acima da superfície, onde a temperatura é similar à da Terra. A fosfina também existe na Terra, e é produzida por microrganismos. Pela lógica, na atmosfera de Vênus poderia haver alguma forma de vida também. Novas missões espaciais estão para partir nos próximos meses e poderão ajudar a chegarmos a uma conclusão mais positiva.

Dentro do sistema solar já existem corpos celestes nos quais é praticamente certo que encontraremos algum tipo de vida. Algumas luas de Júpiter (Europa, Ganimedes e Calisto) são possíveis locais por causa da presença de água em estado líquido. A lua de Saturno chamada Enceladus é outro ponto a ser pesquisado. Assim como Titã, um satélite gigante, maior que o planeta Mercúrio, com superfície congelada a 180 graus negativos. Em breve a nave Dragonfly, da Nasa, deverá explorar Titã em detalhes. Lá talvez se encontre algo fora de nosso padrão: alguma forma de vida baseada em etano (e não em água), e sem o princípio do DNA em suas moléculas.

Como espermatozoides à procura de óvulos, asteroides podem “fecundar” planetas distantes

Já existe um ramo da ciência dedicado exclusivamente à busca de vida fora da Terra, a astrobiologia. Enquanto astrobiólogos não podem pesquisar outros corpos celestes in loco, fazem experiências com os chamados seres “extremófilos”. São organismos que sobrevivem em áreas da Terra extremamente hostis, como regiões desérticas ou polares. O princípio adotado é que, se organismos se desenvolvem em lugares como cavernas profundas ou lagos vulcânicos ácidos da Terra, podem se desenvolver também em planetas como Marte ou Dimidium.

A Agência Espacial Europeia realizou experiências práticas nesse sentido, levando criaturas invertebradas para a Estação Espacial Internacional (ISS). Bactérias e outras formas básicas de vida terrestre foram expostas a radiações, congeladas e descongeladas todos os dias, submetidas a temperaturas entre 27 graus Celsius negativos e 46 graus. Após seis meses de viagem, voltaram para a Terra vivas e em boas condições.

A experiência provou que a chamada panspermia é perfeitamente possível. Panspermia é o nome que se dá à possibilidade de formas de vida colonizarem planetas “pegando carona” em asteroides. Como espermatozoides à procura de óvulos, asteroides podem estar viajando neste momento carregando a vida para “fecundar” planetas distantes. A própria vida na Terra pode ter começado assim.

Claro que o fascínio maior é exercido pela possibilidade de encontro com uma forma de vida extraterrestre inteligente e comunicativa. O astrônomo e astrofísico Frank Drake chegou a criar uma fórmula apelidada de Equação Drake para calcular a chance de um encontro com alienígenas avançados. A equação foi produzida como parte do projeto SETI (ou “Busca de Inteligência Extraterrestre”). O SETI usou uma rede planetária de computadores conectados globalmente por voluntários para analisar sinais de rádio captados do espaço tentando destacar algum tipo de transmissão inteligente. Nada de conclusivo foi encontrado.

O SETI está sendo complementado agora pelo METI (“Mandando mensagem para Inteligência Extraterrestre”). Em vez de “escutar” sinais, o METI transmite mensagens da Terra para as estrelas mais próximas. “Minha maior preocupação”, declarou o astrobiólogo e presidente do METI, Douglas Vakoch, “é que exista de fato um monte de outras civilizações por aí, mas estejam fazendo exatamente o que nós fazemos. Eles podem ter esses robustos programas SETI, e todos estão ouvindo, mas ninguém está dizendo alô.”

Em 2017, uma mensagem simplificada foi enviada pelo METI na direção da estrela Luyten. Se houve uma resposta, ela só deve chegar à Terra em 2041. Qual é o sentido dessa atividade, então? “Se repetirmos a experiência cem, ou mil, ou um milhão de vezes”, declarou o doutor Vakoch à revista BBC Focus — Science & Technology, “acho que teremos a chance real de uma resposta.”

Uma técnica mais recente é a busca de tecnoassinaturas. Supertelescópios rastreiam planetas fora do sistema solar em busca de sinais de civilizações — megaestruturas construídas, contaminação atmosférica criada por uma civilização industrial, possíveis sistemas de iluminação artificial etc.

O problema dessa busca é que ela procura por seres parecidos com os terrestres. Estamos na primeira infância dessa busca e nossos parâmetros ainda são limitados. Em nossa concepção, a vida se estrutura a partir de uma base de carbono, água e oxigênio e depende de uma molécula de DNA com registros genéticos.

A série A Vida em Outros Planetas (em cartaz na Netflix) procura especular como poderiam ser formas de vida em planetas hipotéticos. Um dos planetas possui força de gravidade muito grande e atmosfera densa demais. Outro tem metade muito quente e a outra metade gelada. Um terceiro gira ao redor de duas estrelas, o que o torna extremamente fértil. Os seres que os habitam são primitivos e vivem segundo a conhecida regra do nascer/crescer/alimentar-se/reproduzir-se/morrer.

É uma possibilidade baseada em nossas características terrestres, nossa regras e nossos princípios. O monstro de Alien (“cientificamente” conhecido como Xenomorph XX121) foi imaginado usando-se como modelo uma espécie de vespa especialmente cruel em seus métodos de reprodução. Foi mais uma forma de ver o universo com nossos olhos de terráqueos.

Ninguém pode imaginar que as mesmas características serão encontradas numa galáxia como a GN-211m, a 13 bilhões de anos-luz de distância. Quanto mais sabemos, mais descobrimos nossas limitações. Somos seres frágeis limitados por enquanto a um pequeno planeta ao redor de uma pequena estrela na vasta amplidão da Via Láctea. Apenas uma entre 2 trilhões de galáxias.

A questão traz aspectos não só biológicos, mas também religiosos. Seria a Criação da vida, retratada em tantas religiões, uniforme em todo o universo? Mesmo para o materialista, essa dúvida pode levar muito tempo para ser respondida. Ou talvez nunca seja.

Encontraremos alienígenas hostis? Ou tão evoluídos que dispensam uma aparência física? Irão nos encarar como alimento, assim como encaramos uma galinha? Ou nos trarão conhecimentos aos quais não teríamos acesso sem a ajuda deles? Já não teriam estado aqui, segundo os registros de mitos e religiões da Antiguidade e certos documentos de impérios já extintos?

O fato é que não sabemos praticamente nada. E o reconhecimento dessa limitação pode ter um efeito positivo no amadurecimento de seres tão cheios de certeza como os humanos.

Mais do que uma resposta imediata, o importante agora é a busca em si. Essa busca faz a humanidade parar de olhar fixamente para o próprio umbigo e crescer para uma nova etapa de sua evolução. Reconhecer que não estamos sós e que podemos não ser os mais evoluídos nos dá nova perspectiva. Descobrimos que não somos o centro do Universo. Estamos saindo da infância.

Leia também o artigo “Nos encontramos em Marte”


Dagomir Marquezi, nascido em São Paulo, é escritor, roteirista e jornalista. Autor dos livros Auika!, Alma Digital, História Aberta, 50 Pilotos — A Arte de se Iniciar uma Série e Open Channel D: The Man from U.N.C.L.E. Affair. Prêmio Funarte de dramaturgia com a peça Intervalo. Ligado especialmente a temas relacionados com cultura pop, direitos dos animais e tecnologia.

 

19 comentários
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  4. Adão Borges
    Adão Borges

    É claro que existe vida fora da terra.

    E, quando Jesus dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos.
    E, estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois homens vestidos de branco.
    Os quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.

    Atos 1:9-11

  5. João Paulo Nachabe
    João Paulo Nachabe

    Ótimo texto! Acho este um tema bastante interessante, e espero que possamos nos aprofundar mais neste conforme evolui a tecnologia e a ciência espacial.

  6. Ricardo A T Lanna
    Ricardo A T Lanna

    Se nos baseamos apenas nos parâmetros definidos pelo nossa atual etapa de desenvolvimento “científico”, esse tipo de reflexão só irá até os limites daquilo que já conhecemos. O resto não passará de mera especulação. Não deveríamos nos ater apenas aos indicadores das chamadas ciências exatas, biológicas e humanas. Acredito que se adotarmos uma visão mais holística da vida e do universo caminharemos mais rápido.

  7. Jose Carlos De Souza
    Jose Carlos De Souza

    Ainda estamos muito longe de qualquer possibilidade levantada neste artigo, me admira que ainda discutamos temas tão insignificantes para a sociedade. Vida em outro planeta? pura perda de tempo. Qual a base empírica para todas as possibilidades levantadas? Não existem, são apenas estorinhas de ficção, de novo perda de tempo. Vamos falar de ciência de fato.

    1. Rogerio
      Rogerio

      Klaatu Barada Nikta!

  8. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    Bon texto, super interessante.

  9. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Muito bom esse texto.

  10. Diego Coimbra
    Diego Coimbra

    Creio que o maior impedimento de contatos com seres extraterrestes seja a distancia e o que conceitualmente admitimos com a “coisa” mais veloz do universo, a luz. Comparativamente ao tamanho do cosmo a luz é relativamente lenta, leva 8 minutos para vir do Sol a Terra e 4,5 anos para chegar da estrela mais próxima, as outras então são milhares de anos de viagem. E=MC² talvez seja um grande impedimento para contatos imediatos de 3° grau, apesar de ser apenas uma teoria .

  11. Natan Carvalho Monteiro Nunes
    Natan Carvalho Monteiro Nunes

    Que essa série de textos continue. Muito interessante mesmo. Excelente artigo, prezado Dagomir.

  12. Lia Crespo
    Lia Crespo

    Querido Dagomir, desculpe, mas, como uma trekker, não posso deixar de corrigir: o oficial de Ciências, de Jornada nas Estrelas, é chamado de senhor Spock. Dr. Spock é o pediatra que ficou famoso por escrever um dos maiores best sellers de todos os tempos sobre educação: Meu Filho, Meu Tesouro (The Common Sense Book of Baby and Child Care).

  13. Nara Rosangela Rodrigues
    Nara Rosangela Rodrigues

    Muito bom, texto instigante. Só acho que não devemos nos depreciar. Para nós, sempre seremos importantes. Ou nada fará sentido.

  14. Rosângela Baptista da Silva
    Rosângela Baptista da Silva

    Caro Dagomir, desde a adolescência creio em vida fora da Terra e gostaria muito que essa descoberta fosse feita ainda comigo por aqui. Seria glorioso mostrar a muitos que estava certa rsrs. Mas, acho difícil confirmar isso nessa encarnação… Mas vou levar essa certeza comigo. FELIZ NATAL e um excelente 2021

  15. marise neves
    marise neves

    Acho que já estiveram por aqui e sinceramente ,desistiram de ter alguma relação com uma raça tão medíocre e mesquinha como a nossa.
    Espero ansiosamente que voltem e nos ajude a sair desse marasmo onde nos encontramos.

  16. Júnior
    Júnior

    Já estiveram aqui e chegaram a conclusão que não vale à pena tentar absolutamente nada com os humanos. É uma raça que destrói seu próprio planeta; que se destrói em guerras inúteis e abjetas em nome de religiões ou ideologias baratas; que vê a miséria aniquilar seus semelhantes sem nada fazer ;que desrespeita seus iguais apenas pelo gênero, raça e cor; e que não admite argumentações contrárias às suas próprias querendo impor seus modelos de regimes e governanças . Conclusão: É uma raça que não deu certo, admitamos.

  17. Silas Veloso
    Silas Veloso

    Seus artigos redimensionam nossas perspectivas, movem os pensamentos pra fora dessa bolha artificial ideológica q a esquerda, principalmente, nos impõe. Bom ano e anos pra vc, Dagomir, e toda a nave Oeste

  18. Luiz Antônio Alves
    Luiz Antônio Alves

    Posso acreditar que um alienígena não dependa de água.

    1. mizaneiMizanei Waldemar Rodrigues
      mizaneiMizanei Waldemar Rodrigues

      Acredito que haja vidas em outros planetas. Entretanto sou cetico quanto a serem inteligentes como nós.
      Dando uma de nerd chato não é doutor Spock, mas Sr. Spock. Doutor era o medico da nave, McCoy.

      1. Rubens Moraes
        Rubens Moraes

        Inteligentes como nós? Acho que uma ameva estelar já seria mais inteligente…

    2. Ricardo Luiz Rocha Cubas
      Ricardo Luiz Rocha Cubas

      Extraterrestres não estão chegando… Já estão aqui e são os responsáveis pela manutenção da Terra em todas as suas funcionalidades. São espíritos de luz da mais alta hierarquia e propiciam os ciclos encarnacionais dos demais espíritos em suas experimentações. Lamentavelmente, poucas pessoas sabem disso.

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