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Renan Calheiros | Foto: Pedro França/Senado Federal do Brasil
Edição 84

Renan, antes e depois da CPI

Sem o microfone da CPI, o senador alagoano volta à vida real de colecionador de escândalos e às tramas dos bastidores de Brasília

Silvio Navarro
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A partir da próxima semana, sem os holofotes diários da TV Senado, o alagoano Renan Calheiros (MDB) volta a ser só o senador que melhor retrata um velho Brasil em atividade no Congresso Nacional. Os seis meses com uma caneta poderosa na mão e a ajuda da imprensa tradicional quase fizeram o país esquecer que o relator da CPI da Pandemia no Senado é um político com sérios problemas na Justiça e uma biografia difícil de lavar.

Político profissional, Renan foi deputado federal. Está no Senado desde 1995, Casa que presidiu três vezes. Nesse período, serviu a todos os governos, de José Sarney ao PSDB de Fernando Henrique Cardoso, passando pelos 13 anos dos petistas Lula e Dilma Rousseff, até esbarrar em Jair Bolsonaro.

A resiliência no alto escalão de Brasília permitiu que ele montasse uma verdadeira oligarquia em seu Estado. Dois de seus irmãos se elegeram deputados (Renildo e Olavo). Renan manteve o controle da máquina municipal de várias cidades e fez do filho, que leva o seu nome, duas vezes governador de Alagoas. A linha sucessória é impressionante: por exemplo, Renan Filho foi eleito prefeito de Murici aos 25 anos, renovou o mandato e foi sucedido pelo tio, Remi.

No tapete azul do Senado, Renan é conhecido há décadas por duas características marcantes: os métodos de chantagem colocados sempre à mesa (os relatos seguem abaixo) e a velocidade com a qual faz acordos pela sobrevivência política. Em 2015, quando o Congresso o reelegeu para chefiar o Senado e o deputado Eduardo Cunha (RJ) para controlar a Câmara, uma frase dita durante reunião do MDB sobre as desavenças com o PT de Dilma Rousseff ficou famosa nos bastidores: “A diferença entre Cunha e Renan é que o primeiro reage com o fígado. O segundo não tem fígado”. Deu no que deu: a então presidente caiu, Cunha foi preso. E Renan continua aí.

No establishment de Brasília, Renan sempre teve dois esteios: o ex-presidente José Sarney (de quem herdou o espólio das gavetas secretas do Senado) e Romero Jucá (RR), que liderou quatro governos (FHC, Lula, Dilma e Temer) até perder a reeleição por 400 votos. Na época, Jucá culpou Temer por se recusar a fechar a fronteira com a Venezuela diante da onda de imigrantes que provocou o caos nas ruas de Boa Vista. Pagou o preço nas urnas.

Inferno pessoal

Sem os aliados por perto e diante de um PT enfraquecido nas eleições de 2018, Renan tentou retornar à cadeira da presidência do Senado para se opor a Bolsonaro. A estratégia era a mesma de governos anteriores. Como presidente do Congresso e com a permanência de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Câmara, travaria a agenda do Palácio do Planalto no Legislativo em troca de dois trunfos: um naco ministerial com volume de verbas no Nordeste e uma campanha aberta pelo fim das investigações da Polícia Federal na Lava Jato.

A oportunidade de dar o troco no presidente Bolsonaro ocorreu no auge da pandemia

Àquela altura, Renan respondia a 26 investigações e já era réu da Lava Jato. Até hoje está às voltas com sete processos sobre lavagem de dinheiro, recebimento de propina desviada do caixa da Transpetro (subsidiária da Petrobras), do Postalis (fundo de pensão dos Correios) e na construção de estaleiros.

Jair Bolsonaro não se mostrou disposto a ceder. Queria manter o compromisso de não lotear a Esplanada dos Ministérios para os inquilinos de sempre. Além disso, havia dado autonomia para Sergio Moro conduzir a área da Justiça e Segurança Pública. O presidente apoiou David Alcolumbre (DEM-AP), que venceu a disputa no Senado. Renan Calheiros não engoliu.

A oportunidade de dar o troco no presidente Bolsonaro ocorreu no auge da pandemia, quando alguns parlamentares decidiram investigar desvios de recursos da União para a compra de respiradores, o que o presidente do PTB, Roberto Jefferson (agora licenciado por estar preso), apelidou de “covidão”. Renan conseguiu reunir um grupo de mais seis interessados em desgastar o governo e montou a CPI. Passados 180 dias, o relatório capenga não deve ter outro destino senão o arquivo da Procuradoria-Geral da República. Do ponto de vista penal, é uma nulidade jurídica. Mas Renan conseguiu o que queria: uma caneta que lhe desse algum poder, ainda que provisório, para voltar a frequentar manchetes que não se referissem a casos de polícia.

Como ele mesmo já admitiu, Renan viveu seu inferno pessoal em 2007. Em maio daquele ano, a revista Veja publicou uma reportagem de capa na qual a jornalista Mônica Veloso afirmava que quem pagava a pensão de R$ 12 mil mensais da filha que teve com o senador era a empreiteira Mendes Júnior — às vezes, em dinheiro vivo.

Na época, Renan era presidente da Casa. A imprensa decidiu virar sua vida financeira do avesso e descobriu pelo menos mais quatro denúncias que lhe renderam cinco processos de cassação de mandato no Conselho de Ética. Ele mesmo afirmou que o maior erro de cálculo foi abrir seu Imposto de Renda. Até hoje não se sabe onde estava o rebanho de gado fantasma que justificava o patrimônio.

“Não arredarei o pé”

Colocado contra as cordas num terreno em que mandava e desmandava, Renan resolveu usar a tática peculiar da intimidação. Produziu dossiês contra os adversários. Um grupo foi escolhido como alvo preferencial para tentar atingir diferentes bancadas e grupos na Casa: Jefferson Péres, Pedro Simon, Jarbas Vasconcellos, Arthur Virgílio, Tasso Jereissati, Demóstenes Torres e Marconi Perillo. No caso dos então colegas de MDB, Simon e Jarbas, conseguiu derrubá-los da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Para tentar silenciar a dupla goiana Perillo e Demóstenes, Renan incumbiu o assessor Francisco Escórcio para instalar câmeras secretas num hangar de Brasília. Chiquinho, como era chamado, trabalhava como uma espécie de araponga desde os tempos que Sarney presidiu o Senado. Outro trunfo pouco republicano utilizado contra os opositores foi encomendar ao ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia um catatau com todas as despesas dos 80 senadores com verbas de gabinete: gasolina, restaurantes, aluguel de escritório, passagens aéreas, etc. Desse levantamento, surgiu uma briga histórica com Tasso Jereissati sobre o reembolso de combustível do seu jato particular.

Em sua mais recente aparição, escolheu nesta semana o presidente da Câmara, seu conterrâneo Arthur Lira (PP), como o desafeto da vez — o deputado havia criticado o relator por incluir parlamentares na lista de possíveis indiciados. “Acho que o presidente da Câmara tem muita preocupação com o que pode vir de investigação, sobretudo em relação ao RP9, que são emendas secretas que ele coordena e isso vai causar, talvez, o maior escândalo do Brasil”, ameaçou.

Renan está no quarto mandato no Senado. Num ranking com os mais longevos da história, só é superado por Rui Barbosa e José Sarney (cinco mandatos cada um). Como ele mesmo profetizou em julho de 2007, quando estava no auge do furacão: “Não arredarei o pé”. Lá se vão 14 anos.

Leia também “Show de infâmias”

19 comentários
  1. Miklós Battonyai
    Miklós Battonyai

    Renan Canalheiros é so uma figura representativa de nosso processo eleitoral…tamo fu…

  2. MARCOS MAQUIAVEL VIAL
    MARCOS MAQUIAVEL VIAL

    O povo alagoano dará a resposta certa a ele, expurgando-o das urnas.
    Este homem mostrou-se não ser uma pessoa do bem. Não condiz como representante de um povo sério e trabalhador como o alagoano.
    O Brasil grita: “Renan, vagabundo!”

  3. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Desejo que essa desgraça em forma humana morra logo e nos livre de sua presença repugnante.

  4. Alexandre Chamma
    Alexandre Chamma

    Dedico esse tempo que o nobre senador permanece no cargo a estupidez do povo que insiste em votar em bandidos como esse!

  5. Érico Borowsky
    Érico Borowsky

    Cobra venenosa, asqueroso !!!

  6. Debora Balsemao Oss
    Debora Balsemao Oss

    Talvez não arredasse o pé quando brasileiros em geral, e alagoanos, em particular não estivessem tão cientes das suas investidas contra o BRASIL. Os brasileiros estão entendendo direitinho o que o Senador Cleptomoedas e Biticóios deseja. E não é a mesma coisa que NÓS desejamos. Alagoanos, uni-vos contra esse arremedo de oligarca.

  7. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    É triste constatar a péssima qualidade dos nossos congressistas.

    1. Teresa Guzzo
      Teresa Guzzo

      Renan,o coronel de Alagoas,quer viver eternamente de suas manobras políticas para viver às custas do erário.Beneficia sua família e amigos, roubando até hoje nosso dinheiro.Uma urgência mudarmos o Congresso nas próximas eleições,sem isso o Brasil continuará patinando sem conseguir as mudanças e liberdades tão evidentes que ficaram marcadas no sete de setembro.

  8. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Silvio, admiro as matérias da revista oeste esclarecedoras das “qualidades” desses cangaceiros da CPI DO CANGAÇO, mas entendo que doravante melhor será não dar publicidade a esses inúteis e produzir matérias, informando-nos da produção legislativa dos inúteis 3 senadores por Estado, e da desproporcional representação da população eleitoral de São Paulo na Câmara Federal. Em 2018, o Brasil tinha 147 milhões de eleitores para 513 cadeiras, e São Paulo com 33 milhões de eleitores tem 70 cadeiras, e 16 Estados somados com menos de 32 milhões de eleitores tem 145 cadeiras.
    Assim, não fica difícil entender a péssima produção legislativa dessa CASA. Fica claro que o eleitor paulista não é igual perante a lei ao eleitor do Amapá que com pouco mais de 500 mil habitantes elege 8 deputados federais, além de nos presentear os inúteis mas poderosos senadores Alcolumbre e Randolfe Rodrigues. Vale dizer que Randolfe votou contra as reformas trabalhista, previdenciária, MP871 de combate a FRAUDES NA PREVIDÊNCIA e o Marco Legal do Saneamento Básico tendo a cidade de MACAPÁ capital de seu estado AMAPÁ o pior saneamento básico das 100 cidades brasileiras avaliadas recentemente em matéria na revista oeste.
    Penso que um bom trabalho jornalístico, poderá impulsionar a sociedade a PAUTAR o inicio de uma reforma política que reduzisse no mínimo 1/3 das CASAS LEGISLATIVAS federal, estaduais e municipais e o Senado Federal que representa os Estados à somente 1 inútil por Estado. Lembrando também a proporcionalidade da representação na Câmara Federal às populações eleitorais de seus estados.
    Vale dizer que eu não consegui eleger meu candidato em 2018 para a Câmara Federal, e no Amapá com pouco mais de 120 mil votos se elege um Alcolumbre.
    Será que o iluminado Barroso consegue nos esclarecer?

  9. Jose Moura da Silva
    Jose Moura da Silva

    Na verdade o irmão Renildo, é deputado por Pernambuco, de onde exerce o poder negativo, consistente e próprio da família. Zero de importância. Tal quem um tal Humberto, infelicidade pura, senador como o mano velho, o notório Renan.

  10. Marcelo Hial
    Marcelo Hial

    Tudo isso é a prova cabal de que vivemos numa “pujante” democracia, e que as instituições funcionam perfeitamente, pra eles é claro … e muito pior do esse sujeito ainda estar no senado, é quem o colocou lá … depois ficam pedindo “intervenção militar” para arrumar toda essa lambança … com um congresso desses o Brasil não corre o menor risco de dar certo …

  11. Marcelo Zan
    Marcelo Zan

    Renan “ O CANGACEIRO QUE TENTOU CRIAR UM GOVERNO PARALELO EM BRASÍLIA é o nosso equivalente a Grigori Rasputin, O BRUXO QUE CRIOU UM REINADO PARALELO NA RÚSSIA

  12. JOSE FERNANDO CHAIM
    JOSE FERNANDO CHAIM

    Absurdo não é um Renan estar no senado, o absurdo é o povo colocar ele lá!!!!

    1. Therezinha de Albuquerque
      Therezinha de Albuquerque

      Concordo plenamente !

    2. Antonio Rezende
      Antonio Rezende

      Perfeito

  13. CARLOS ALBERTO DE MORAES
    CARLOS ALBERTO DE MORAES

    Essa reportagem mostra um Renan em decadência, o que sabemos não é a realidade. Ele tem ministros do STF em suas mãos e dossiês de centenas de políticos. Com isso tem poder para continuar, no mínimo, atuando nos bastidores do esgoto da política brasileira.

    1. JOSE CESARIO VIEIRA NETO
      JOSE CESARIO VIEIRA NETO

      Perfeito entendimento, penso assim também.

  14. Fernando Lo Bianco
    Fernando Lo Bianco

    Histórico HORRIPILANTE, e esta ainda hoje fazendo das suas. Quem vota neste cara? Como é possível alguém em sã consciência votar neste traste?

  15. José Arnaldo Amaral
    José Arnaldo Amaral

    Todo povo tem o governo q elege. O eleitor de Renan Calheiros, et caterva, é mais latrinário q o próprio.

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