A Golden Cross, pioneira no modelo de medicina privada no Brasil, enfrenta uma crise sem precedentes que pode culminar em sua liquidação definitiva. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determinou que a empresa venda sua carteira de clientes em até 30 dias, alegando “incapacidade de regularizar anormalidades econômico-financeiras”.
Se não houver uma reversão judicial ou uma empresa interessada em assumir seus clientes e obrigações, aproximadamente 215 mil beneficiários de planos de saúde e 100 mil usuários de planos odontológicos poderão recorrer à portabilidade para outras operadoras. Eles irão enfrentar, contudo, prováveis reajustes nos valores a serem pagos.
A trajetória da Golden Cross foi marcada por períodos de grande expansão e colapso financeiro. Nos anos 1980 e 1990, a empresa dominava o mercado de planos de saúde no Brasil, beneficiando-se do cenário inflacionário e da ausência de concorrência significativa. No entanto, com a estabilização econômica trazida pelo Plano Real em 1994, sua estrutura financeira foi abalada.
Além da perda do efeito da inflação sobre seus rendimentos, investigações apontaram irregularidades fiscais, incluindo isenções tributárias concedidas a uma entidade filantrópica ligada ao fundador Milton Soldani Afonso, que ainda controla a empresa, aos 103 anos.
Golden Cross acumula dívidas
O passivo tributário da Golden Cross e de entidades associadas a Soldani já superou R$ 7 bilhões, sendo objeto de disputas judiciais há décadas. Em 2023, o Superior Tribunal de Justiça concedeu uma decisão favorável ao Instituto Semear, entidade ligada à Golden Cross, permitindo a suspensão da cobrança desses débitos até julgamento definitivo pelo Supremo Tribunal Federal.
Como resultado, dívidas que somavam R$ 4,6 bilhões em 2021 foram reduzidas para R$ 57 milhões em 2024, enquanto as da própria Golden Cross caíram de R$ 2,9 bilhões para R$ 58 milhões.
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Apesar do alívio tributário temporário, a empresa continua registrando perdas significativas. A Vision Med, razão social da operadora, fechou 2023 com um prejuízo de R$ 295 milhões, excedendo em R$ 118 milhões seu capital social. As dificuldades financeiras persistem, com novas perdas de R$ 105 milhões registradas até setembro de 2024. Diante desse cenário, analistas do setor apontam que a intervenção da ANS poderia ter ocorrido ainda no ano passado, dado o agravamento contínuo da situação.
A Golden Cross contesta a decisão da ANS e afirma ter um plano para reverter a crise, além de ter recorrido administrativamente e considerar ações judiciais. A operadora sustenta que os atendimentos aos beneficiários seguem como prioridade e que sua estratégia de recuperação econômica está em andamento.