O ministro Marco Aurélio Mello, que junto com os seus colegas de STF vem caridosamente nos poupando, nestes tempos de cólera, da sua visão sobre o Brasil e o universo, parece que não resistiu ao próprio silêncio. Um dos lados bons do coronavírus – e quase tudo tem o seu lado bom nesta vida – foi confinar em quarentena verbal gente como Marco Aurélio e outros cérebros da nossa “Suprema Corte”, ventura que nos é negada em épocas menos aberrantes. Que alívio, não? Pararam de falar um pouco. Mas alegria de pobre não dura muito. Como num desses arranques heroicos de cachorro atropelado, descritos com tanta graça pelo gênio de Nelson Rodrigues, Marco Aurélio reapareceu, de repente, para dividir conosco as suas últimas meditações. “Não é possível que o mundo inteiro esteja errado e o presidente Bolsonaro esteja certo”, disse ele. Parece bom senso. É apenas uma bobagem.
Marco Aurélio jamais foi acusado de ser um pensador brilhante – ou, então, sempre tomou cuidados extremos para não deixar que nenhuma ideia original, ou apenas interessante, aparecesse em nada do que disse ou escreveu em seus 30 anos de presença no STF. (Está tudo registrado nos computadores; não dá, realmente, para criar uma “narrativa” nessas coisas. Ou o sujeito brilhou ou não brilhou. Fim da história). A atitude prudente, nesses casos, é ficar quieto o máximo que for possível, para não chamar atenção sobre o que realmente existe na sua cabeça – e sobretudo sobre o que não existe. Mas o ministro Marco Aurélio, pelo seu histórico, não gosta de deixar dúvidas a esse respeito.
No caso deste último comentário, o presidente Jair Bolsonaro pode, realmente, não ter razão nenhuma. Na verdade, pode estar monstruosamente errado. Já errou feio no passado; vai errar feio, de novo, no futuro, sobre este e muitos outros assuntos. Mas se estiver errado é porque está errado mesmo – e não porque “o resto do mundo” acha que está. Primeiro, não é “resto do mundo” que discorda dele. Muita gente concorda com o presidente, o que também não prova coisa nenhuma; ele e os que compartilham o seu ponto de vista podem estar errados, tanto quanto os que discordam. O certo e o errado, aí, serão definidos pela ciência e pela repetição dos resultados obtidos através da experiência prática.
Dizer que isso ou aquilo “não é possível” porque a maioria, ou todos os outros, afirmam o contrário, é um disparate. Por essa maneira de se raciocinar, o ministro Marco Aurélio, como magistrado do Santo Ofício no começo do século XVII, chamaria os jornalistas e diria: “Não é possível todo o mundo estar errado e só o Galileu Galilei estar certo”. A mídia, sob o peso dessa revelação, repetiria com reverência o ministro – e a Terra continuaria a girar em volta do Sol. Não “é possível”, para Marco Aurélio, que só Santos Dumont estivesse certo ao dizer que o homem poderia voltar, ou que só Edison tivesse razão sobre a luz elétrica e mais mil coisas da mesma família. É um princípio elementar, coisa que se ensina no ginásio, que a verdade não depende do número de pessoas que acreditam nela, nem de pesquisa do Datafolha. Se “todo mundo”, como diz o ministro, achar que 2 mais 2 são 7, e só uma pessoa no mundo achar que são 4, como é que fica?
Falar sem pensar dá nisso.
Obrigada por desqualificar o homem que está num posto de ministro.
Elogios e poder são o ar que eles respiram. Eles têm que saber que só vão receber elogios dfe outros bandidos como eles.
A suprema corte, que de suprema não tem nada, deveria fazer uma varredura nesses velhos gagas, que praticamente nao consegue nem andar quanto mais raciocinar com a mesma velocidade que o mundo gira.
Devemos lembrá-los que estamos no ano de 2020 e o raciocínio destes gagas ainda estão em 1950.
Parabéns Guzzo!!!
A Suprema Corte deveria reduzir os Supremos Salários dos Três Poderes, colaborando assim no combate à Pandemia.
Excelente texto do Guzzo, Como sempre muito inteligente.
Mais que disparate, é falácia pura – aliás, a prática preferida desta nação ignorante. Algo deve ser seguido (ou não) baseado na força de seus fundamentos. Se, num país africano, a maioria acha válido decepar o clítoris das meninas, a sangue frio, para que não tenham prazer sexual, o fato passa a ser aceito por ser defendido pela ‘maioria’? Para isto devemos ter leis bem assentadas em princípios civilizados, e não em multidões ignorantes e desvairadas.
Será que presenciaremos, ainda nesta semana, mesmo que seja um anúncio “monocrático” como bem são contumazes, ao exemplo de uma redução de salários e benesses, ajudando na compra de algumas máscaras, ou mesmo de “filtros coadores de café” para que nós mesmos as façamos?
Se na década de 80 aquele pesquisador que se infectou com a bactéria que causa gastrite e úlcera para provar que não eram doenças psicossomáticas tivesse se contentado em seguir a maioria ..,. Até hoje os atingidos por estas doenças estariam se tratando apenas com psicoterapia.
O Guzzo é 10!!!
Texto excelente!
Marco Aurélio é o exemplo de caderninho do nepotismo no serviço público. Era um juizinho do interior, mas era primo do Collor. Pior só o Lewandowski que era afiliado da ilustre figura da inteligentsia Nacional Marisa Leticía,
Sempre perfeito, Mestre
Esse ser é asqueroso ??
Bom texto.
Perfeito! para alguns, 2+2 são 7 até prova em contrário.
Sempre perfeito, Guzzo. Assinei a Oeste para ler vc e o Augusto Nunes. Muito obrigada por colocar tudo tão claramente e não nos deixar sozinhos achando que estamos na contramão da “verdade” que as “autoridades” e a grande imprensa insistem em garantir.
o dilema de grande maioria de pessoas em evidência é mostrar que além de serem artistas, esportistas, intelectuais, jornalistas: estão do lado certo, do bem, dos fracos, contra os poderosos. ai, militam de forma dogmática. um brilhante livro da psicanalista brasileira, rachele ferrari – VOLUNTARIADO – conta: “As pessoas, só fazem o bem, mas pra si mesmas. as vezes o bem pra si é bom para os outros. Mas se o que me faz bem é a destruição do outro?” o estar do lado certo, do bem, a favor dos fracos, contra os poderosos, praticados de forma dogmática, anula qualquer possibilidade de credibilidade da maioria de nossa imprensa