“Precisamos buscar o equilíbrio entre salvar vidas e preservar a atividade econômica. Unir todos os lados”, afirmou a Oeste a prefeita Paula Mascarenhas
Diálogo com a sociedade e sensatez na tomada de decisões são as armas que Pelotas, município gaúcho a 260 quilômetros da capital Porto Alegre, tem usado para combater o coronavírus. Até quinta-feira 18, a cidade não tinha mortes por covid-19 desde o início da pandemia. A situação do sistema de saúde é estável (10% das UTIs ocupadas), há testes em quantidade e os números referentes ao vírus chinês estão abaixo da média nacional.
De acordo com o mais recente boletim divulgado pela Secretaria municipal de Saúde, Pelotas contabilizou até ontem, no total, 177 infectados pelo vírus chinês e uma morte em razão da doença provocada pelo patógeno. Desse número, 122 são pacientes recuperados, 52 encontram-se em quarentena e três internados em hospitais da cidade. A pasta aguarda, ainda, o resultado de 21 exames que estão em análise no Laboratório Central do Estado do Rio Grande do Sul.
Leia mais: Em Sete Lagoas (MG), a vida já voltou ao normal
Além disso, parte das atividades econômicas estão funcionando, mas sob restrições, contou a Oeste a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB).
Segundo ela, tudo isso foi possível graças ao apoio do poder público e da população, que vêm respeitando as medidas de isolamento desde o início da pandemia. A prefeita ressalta que a preparação adiantada contribuiu para o atual cenário de relativo conforto. “Desde fevereiro, a nossa secretaria já trabalhava em um plano de contingência”, observa, ao acrescentar que, no período de fechamento, iniciaram-se outros preparativos.
Organização da rede de saúde
Foram firmadas parcerias entre o Executivo e as universidades da região, que têm hospitais, para atender pacientes com a covid-19. Esforços também se dirigiram à capacitação das equipes médicas das unidades básicas, bem como a contratação de 189 profissionais de saúde no início de abril. São eles: 112 técnicos de enfermagem, 45 enfermeiros assistenciais e 32 médicos generalistas.
Outra medida implementada é o chamado Centro de Atendimento de Síndromes Gripais (apelidado de Centro Covid-19). Em suma, o local é próprio para receber crianças e adultos com sintomas de diferentes viroses gripais, inclusive o coronavírus. No local, há uma ala de desinfecção que objetiva proteger os profissionais de saúde. Inclua-se no pacote 30 leitos para adultos e 15 para crianças.
“Temos de ouvir todos os lados”
Paula afirma que adquiriu equipamentos de proteção individual e demais itens para o tratamento dos contaminados. Houve, também, ampliação do número de leitos. “No início, tínhamos cinco de UTI para a covid-19 e 17 de enfermaria. Hoje, temos 58 de enfermaria e 31 de UTI. Vamos dobrar esses números em breve”, garante. “Já contratamos mais leitos de UTI, que estão sendo montados”.
Leia mais: Acompanhe a evolução da covid-19 no Brasil e no mundo
Pelotas tem um hospital de campanha em andamento, mas que será usado apenas em caso de necessidade. Contudo, quanto aos testes, há quantidade suficiente para atender quem precisar.
Outra medida foi a criação da Central de Teleconsulta. A iniciativa tem o objetivo de orientar e encaminhar casos de síndrome gripal à distância. Sem sair de casa, a população pode entrar em contato — por meio de ligações gratuitas — com médicos, enfermeiros, psicólogos, educadores físicos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e nutricionistas.
“Essa política foi criada para evitar que o vírus se espalhe”, afirma Paula.
Reabertura
Em 23 de abril, a cidade apresentava estatísticas positivas. Assim sendo, a prefeita decidiu flexibilizar o isolamento.
Para isso, estabeleceu protocolos de segurança, a fim de manter estável essa linha. Paula afirma que a população aderiu bem à prática. “Abrimos primeiro o comércio central, com horário e equipes reduzidos. E exigimos que as pessoas usassem máscaras em todos os lugares”, descreve, ao mencionar a importância do comitê de crise de Pelotas. Trata-se de um conselho composto de vários segmentos da sociedade, que opinam sobre pautas referentes à doença.
Leia mais: As lições de sensatez do governador Romeu Zema
Paula acrescenta que demais áreas da economia foram abrindo gradualmente — e sob a supervisão de agentes de segurança, a exemplo de policiais e bombeiros —, como o shopping center, academias (há limites de pessoas), e templos religiosos (com no máximo 30 integrantes). O transporte público segue operando, entretanto, com limitações. Permanecem fechadas, ainda, as escolas e proibidas atividades esportivas.
“O bom-senso deve prevalecer na tomada de decisões”
A prefeita não tem uma data específica para reabrir os demais setores da economia. Mas avisa que isso está no radar, como a volta dos clubes de futebol. Pontua que o governo estadual não tem colocado entraves à gestão municipal desde o início da pandemia. E, caso haja necessidade, não vai pensar duas vezes em decretar o chamado lockdown (em síntese, endurecer as medidas de isolamento social), para conter o avanço do coronavírus na cidade.
“Acho que a gente tem de ter o princípio da precaução”, observa. “O bom-senso deve prevalecer na tomada de decisões. Temos também de ouvir todos os lados. A preservação de vidas tem de estar em primeiro lugar. E precisamos buscar um equilíbrio entre salvar vidas e preservar a atividade econômica. Unir todos os lados”, conclui Paula.
Infelizmente foi anunciada a primeira morte no município na sexta-feira. Mas continua com índice baixo em toda a região.