A série de reportagens de Oeste sobre a Mynd8 embasou um documentário que desnuda o modus operandi da agência especializada em entretenimento. Trata-se do Choquei — Lacrando Vidas, um curta-metragem lançado nesta segunda-feira, 1º, pelo empresário Daniel Penin.
Com menos de 24 horas no ar, o documentário ultrapassou 600 mil visualizações no YouTube. Nele, Penin expõe os detalhes da agência que tem mais de 400 influenciadores sob contrato.
O fio condutor do curta-metragem é o suicídio da estudante Jéssica Vitória Canedo, de 22 anos, que sucumbiu depois de ser alvo de difamação do perfil de fofoca Choquei, um dos principais ex-agenciados da Mynd8.
Ao longo de 40 minutos, Penin mostra como as páginas de fofoca agiram em conluio para constranger a jovem mineira. A Garotx do Blog, até então parceira da Mynd8, deu início à onda de difamação em 18 de dezembro. Conhecido por compartilhar informações de subcelebridades da internet, esse perfil divulgou imagens de supostos diálogos amorosos entre Jéssica e o humorista Whindersson Nunes. Os dois negaram ter relação.
Embora soubessem a verdade, 30 perfis de fofoca optaram por reproduzir as publicações da Garotx do Blog. Nem mesmo o apelo de Inês Oliveira, mãe de Jéssica, sensibilizou os administradores das páginas. Raphael Souza, dono do Choquei, ainda debochou da jovem. “Avisa para ela que a redação do Enem já passou”, disse, referindo-se ao texto em que Jéssica pede aos perfis que parem de difamá-la. “Pelo amor de Deus!”
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A onda de difamação continuou até 22 de dezembro, quando Jéssica tirou a própria vida. Apesar da tragédia, as publicações seguiram nas redes sociais. A Mynd8, o Garotx do Blog e o Choquei eximiram-se da culpa dias depois. “Queremos ressaltar que todas as publicações foram feitas com base em dados disponíveis no momento e em estrito cumprimento das atividades habituais decorrentes do exercício de direito à informação”, alegou este último.
A partir desse caso, Penin mostra como funciona a engrenagem dos perfis de fofoca e como seu principal operador, a Mynd8, consegue mobilizar centenas de milhões de seguidores para fins comerciais.
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O empresário amparou-se em pelo menos duas reportagens exclusivas de Oeste para a produção do curta-metragem: 1) Como a morte de uma jovem, vítima de difamação do Choquei, está ligada à indústria multimilionária de influenciadores; e 2) Agência que gerenciava Choquei recebeu R$ 1 milhão em contratos com o governo.
Entenda a relação da Mynd8 com os perfis de fofoca
Em publicação no Twitter/X, o fundador do Spotniks, Rodrigo da Silva, explica a relação entre a morte de Jéssica e a indústria multimilionária de influenciadores digitais do Brasil.
- Esta é Fátima Pissarra. Fátima é a CEO da Mynd, a maior agência de marketing de influência do país — que Fátima construiu ao lado da cantora Preta Gil e do publicitário Carlos Scappini. Não é possível entender a internet brasileira sem conhecer a Mynd.
- A Mynd agencia mais de 400 influenciadores. Estão em seu catálogo diversos nomes, como Luísa Sonza, Pabllo Vittar, Cléo Pires, Bela Gil, Pequena Lo, Deolane Bezerra, Esse Menino, Bruna Louise, Lexa, Yuri Marçal e Gil do Vigor, entre outros.
- O elenco de influenciadores da Mynd conta com mais de 1 bilhão de seguidores — ou seja: é uma mina de ouro. Os clientes da Mynd incluem os maiores anunciantes do país, marcas de peso como Magazine Luiza, Americanas, Ambev, TV Globo, Amazon e C&A.
+ Banca Digital e Mynd8: os grupos por trás do Choquei
- A Mynd faturou mais de R$ 500 milhões em 2022. E a previsão é chegar a R$ 1,5 bilhão em 2025. Essa é a empresa mais relevante da história do marketing digital brasileiro.
- E publicidade é só uma linha de receita: a Mynd também faz dinheiro através de um braço do grupo chamado House of Brands, focado em promover produtos (como perfumes, cremes hidratantes e maquiagens).
- Além das celebridades, a Mynd promove páginas de fofoca, como: Fuxiquei, Fofoquei, Gina Indelicada, Diferentona, Otariano e Alfinetei. Elas fazem parte da Banca Digital, projeto da Mynd que reúne mais de 30 perfis de fofoca e centenas de milhões de seguidores.
- Entre os agenciados pela Mynd está a página Garotx do Blog. Esse perfil publicou um print falso com um diálogo de Whindersson Nunes com Jéssica Vitória Canedo. Esta última tinha depressão e se suicidou depois do episódio.
- O Choquei — que ajudou a impulsar o conteúdo falso – já foi agenciada pela Mynd, mas não aparece mais em seu catálogo. A Mynd está umbilicalmente ligada ao sucesso desses perfis.
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- O pulo do gato da Mynd é a distribuição do conteúdo produzido por seus influenciadores em forma de pirâmide. O sucesso do casting permite que a agência promova as mesmas campanhas em diferentes lugares; um processo que retroalimenta a sua relevância, capaz de viralizar marcas, assuntos e influenciadores. Quando os agenciados da Mynd publicam a mesma ação ao mesmo tempo, passam a impressão de que toda a internet está falando sobre a mesma coisa. Os seguidores entram com o engajamento; o restante fica com o algoritmo, que, inundado de postagens sobre o mesmo assunto, dissemina ainda mais postagens sobre o conteúdo para fora da bolha. Ou seja: é viral, mas artificial.
- Por exemplo: a edição de 2021 da Farofa da Gkay reuniu influenciadores que, juntos, somavam mais de 334 milhões de seguidores. Boa parte deles eram da Mynd, como a própria Gkay. Esse batalhão de perfis foi capaz de impactar mais de 66 milhões de pessoas com posts sobre a festa.
- A edição de 2022 da Farofa — em um resort 5 estrelas, em Fortaleza – foi transmitida pelo Multishow. O custo do evento passou dos R$ 8 milhões, pagos por anunciantes de peso, como Avon, Listerine, XP, Latam e Vivara.
- Com a máquina da maior agência de marketing de influência do país à disposição, o barulho é inevitável. No total, a cobertura de Multishow, Gshow e Globoplay resultou em 1,7 mil posts sobre a Farofa, que trouxeram mais de 400 milhões de visualizações para as marcas envolvidas. Por outro lado, os perfis de fofoca da Banca Digital tiveram mais de 300 milhões de impressões na cobertura da Farofa, impulsionando e retroalimentando a importância do evento.
- O mesmo processo acontece em festivais de música. Na última edição do Rock in Rio foram conectados pelo menos 100 agenciados da Mynd, de diferentes nichos e perfis, a 19 grandes marcas – da Coca-Cola ao Itaú. Onze músicos da agência se apresentaram no festival.
Leia também: “Business da fofoca: as marcas que patrocinam o perfil Choquei”
- É um círculo de impulsionamento. Em 2021, a Globo contratou o perfil Gina Indelicada, da Banca Digital, pra falar bem da novela Um Lugar ao Sol. Dias depois, o criador do perfil recebeu uma matéria elogiosa do Fantástico.
- A Mynd usa seus perfis de fofoca para impulsionar seus agenciados. O problema é que eles também são acusados de receber dinheiro para prejudicar personalidades públicas. Ou seja, em tese, são pagos para promover uma espiral de cancelamento.
- A Mynd nega que haja coordenação entre as páginas. Mas há controvérsias. Em 2021, a Aos Fatos analisou os posts de 24 perfis agenciados pela Mynd, no intervalo de uma semana, e constatou que quase a metade desse conteúdo apareceu em mais de um perfil.
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- Entre os assuntos abordados pelo casting da Mynd, claro, estão tópicos políticos. E o impacto não é pequeno. Na última eleição, a cada três posts publicados sobre os presidenciáveis, um foi produzido por perfis ligados ao entretenimento.
- Por exemplo: em abril de 2022, a Mynd utilizou seus influenciadores (Luísa Sonza, Pabllo Vittar e Gil do Vigor) na campanha #EhTudoOnline, estimulando jovens a tirarem o título de eleitor. Foi um sucesso.
- Para os críticos, o maior problema da Mynd é a falta de diversidade do seu casting. A ampla maioria dos seus agenciados tem posicionamentos políticos muito parecidos e trabalham para impulsionar (e criticar) as mesmas ideias e os mesmos candidatos.
Para os críticos, o maior problema da Mynd é a falta de diversidade do seu casting.
— Rodrigo da Silva (@rodrigodasilva) December 23, 2023
A ampla maioria dos seus agenciados possuem posicionamentos políticos muito parecidos e trabalham para impulsionar (e criticar) as mesmas ideias e os mesmos candidatos. pic.twitter.com/FYwx4alJaU
- A Mynd, claro, não é a única empresa a atuar nesse setor. E o seu ramo de atividade não é ilegal. Pelo contrário: a agência é muito bem sucedida exatamente por fornecer o que as marcas procuram — relevância nas redes sociais. Por isso mesmo pode se dar ao luxo de faturar centenas de milhões de reais por ano. Mas esse debate pode ser um pouco mais profundo do que isso.
- No apagar das luzes, essa indústria tem à disposição uma máquina invejável de interferência no debate público, capaz de viralizar agendas e personagens, ideias e conceitos, muitas vezes artificialmente, dentro e fora do universo político. Mais do que isso: esse é um canhão de influência com o poder de impulsionar críticas e elogios; de proteger a imagem de marcas e agenciados; e destruir a reputação de pessoas inocentes. Agências como a Mynd podem até abrir mão disso, mas esse poder todo está lá, nas mãos de um punhado de publicitários que você nunca ouviu falar.
- No fim, mesmo que você não siga nenhum desses perfis, reconhecer o alcance dessas agendas, de forma transparente, pode ajudá-lo a manter uma relação mais saudável com as redes sociais. Boa parte do que viraliza na internet é gente de mentirinha, produzindo polêmica de mentirinha, enquanto sustenta, de mentirinha, a imagens de bom moço para vender Avon, Boticário, Ambev e C&A. Mas ,no meio dessas mentirinhas todas, altamente lucrativas, tem gente literalmente morrendo. E essa é a grande fofoca que você precisa saber.
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Como a morte de uma jovem, vítima de uma fake news criada por páginas de fofoca, está ligada a uma indústria multimilionária que sustenta alguns dos maiores influenciadores do país.
— Rodrigo da Silva (@rodrigodasilva) December 23, 2023
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Atualização às 19h21 de 3/1: O título desta reportagem foi alterado para “Documentário sobre a Mynd8 se baseia em reportagem de Oeste“
Se fossem de direita, já estariam todos trancafiados.
Ainda não entendi por que a PF não está recolhendo celulares e computadores dessa corja de desumanos.
Isto mostra que não precisa o PT e o STF tentar controlar as redes como desculpa para implantar a censura e a ditatura. Uma boa investigação policial já basta. O MPF e PF detem técnicos de alto nível e supercomputador para investigar a falcatrua da esquerda.