Está se aproximando um dos maiores eventos liberais do país, o Fórum da Liberdade, e este ano um dos palestrantes do fórum será Michael Shellenberger. Escritor norte-americano e ambientalista de longa data, ele comprou uma briga gigante com os alarmistas ambientais lá em 2020 com o seu livro Apocalypse Never — publicado em português pela LVM Editora, em agosto de 2021.
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O livro, amplamente documentado, com mais de 1,2 mil notas de rodapé, tornou-se um ataque direto e duro às hipocrisias ambientalistas contemporâneas. Aquilo que o autor chama de “nova religião” dos esclarecidos e poderosos, um meio de “autotranscendência” psicológica de ativistas que não conhecem o básico do funcionamento estrutural da ecologia científica, mas nutrem a pretensão de serem microditadores de ações governamentais.
“Uma das características que mais admiro em um escritor é sua visão desapaixonada do objeto que analisa”
Pedro Henrique Alves
Fui o editor dessa obra e lembro-me de notar, depois da leitura, o quão ponderado e sério era aquele, até então, para mim, autor norte-americano desconhecido. Uma das características que mais admiro em um escritor é sua visão desapaixonada do objeto que analisa. Tal paixão militante anuvia a racionalidade, deixa a realidade em tons monocromáticos, como se tudo coubesse numa explicação binária infantil de bem e mal.
Uma nova visão sobre questões ambientais
O autor traz antes uma visão sensata do ambientalismo que eu pessoalmente desconhecia, até então, no debate público. O que eu conhecia, em resumo, era a visão que negava o aquecimento global e toda e qualquer capacidade humana de interferência no clima. E, claro, a visão jihadista dos ambientalistas radicais, do documentário do Al Gore, Uma verdade inconveniente — que me chocou verdadeiramente lá nos altos do meu ensino médio.
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Esse maniqueísmo barato e sirenes de pânico, mostra-nos Shellenberger, não traz luz às questões reais de que tratam os cientistas sérios sobre os problemas ambientais e climáticos verdadeiros. O que deixou o establishment furioso com ele, aliás, foi o fato simples de ele ser um otimista, e não um ambientalista apocalíptico, que enxerga no horizonte próximo algo como o sumiço completo das cidades costeiras e a morte cinematográfica de bilhões de pessoas sob uma pira solar incontrolável.
Para Shellenberger, vivemos um tempo de recuperação acentuada no campo ambiental, a emissão de CO2 vem arrefecendo, as tecnologias novas contribuem diretamente com os ambientalistas, seja por usarem energia limpa, seja no rastreio, prevenção e denúncias de descasos com o clima e meio ambiente. Sem falar daquilo que é o assunto preferido do autor no livro, a benesse real da energia nuclear, mil vezes mais limpa, eficaz e abundante, poupadora, per se, da erosão ambiental que demandam as demais energias mais utilizadas.
“Estamos, na verdade, em uma era de adaptação humana ao ambiente, nunca antes na modernidade tivemos tão perto de uma proteção ecológica eficaz como agora”
Pedro Henrique Alves
A inovação tecnológica, o avanço econômico que fomenta novas atualizações e criações tecnológicas, além da própria consciência individual da temática, mostra Shellenberger, traz para a atualidade uma realidade cada vez menos assustadora com relação a um apocalipse ambiental. Estamos, na verdade, em uma era de adaptação humana ao ambiente, nunca antes na modernidade tivemos tão perto de uma proteção ecológica eficaz como agora.
O agronegócio se abastece de fontes renováveis, a tecnologia geológica cria meios de degradar cada vez menos o solo e suas estruturas, as energias limpas se tornam cada vez mais utilizadas, seja em lares ou em indústrias, ao mesmo tempo que a maioria dos países cria leis de proteção e meios de fiscalização de criminosos ambientais. Não há, para Shellenberger, motivos para um alarmismo ambiental mundial no âmbito que União Europeia, ONGs diversas e institutos ligados à Organização das Nações Unidas parecem tanto amar em pulverizar na sociedade ocidental.
Shellenberger versus “religião” da ecologia
O motivo para o ambientalista norte-americano ter escrito esse livro, aliás, foi ver como tais notícias catastróficas, assinadas por cientistas que mais parecem sacerdotes de alguma seita obscura, estavam afetando psicologicamente os indivíduos comuns. Pai de uma adolescente na época da escrita do referido livro, Shellenberger lia e via relatos de jovens e adultos em crise de ansiedade por esses alarmismos inconsequentes — how dare you… [como ousam…], quem se lembra da Greta Thunberg espumando ante as câmeras do mundo todo?
“Notícias fomentadas por especialistas do caos não raro acabavam criando radicais que pouco ou nada sabem seriamente sobre ecologia e prevenção”
Pedro Henrique Alves
Além da ansiedade, tais notícias fomentadas por especialistas do caos não raro acabavam criando radicais que pouco ou nada sabem seriamente sobre ecologia e prevenção. Muitos deles inclusive apostam as suas vidas em teses que variam desde um veganismo radical militante, à adesão a grupos ecoterroristas listados em agências internacionais por crimes desde a década de 1970.
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O livro, em si, mescla duas abordagens, uma mais técnica, onde o autor mostra com dados oficiais como o alarmismo extremado dos jornalistas e especialistas extrapolou o razoável há tempos já. E, posteriormente, como a humanidade hoje goza de instrumentos e tecnologias que deixam não só o mundo mais verde e equilibrado com as próprias demandas do homem contemporâneo, mas também mais sustentável em questão de produção energética.
Escritor morou no Brasil e se afastou da esquerda
Shellenberger morou no Brasil há mais ou menos 30 anos, mais especificamente na Amazônia, conheceu pessoalmente Lula, Chávez e Ortega. Na época, considerava-se de esquerda. Em uma entrevista ao jornal Gazeta do Povo, em 2021, contudo, disse ter se afastado da esquerda depois de perceber que o mercado não é o malvadão da história, que ele tem antes mecanismos reais que ajudam no combate em prol do meio ambiente e na produção de energia sustentável.
Se ele agora se considera de direita, não, afirma ele, mas é fato que parece estar cada dia mais longe dessa nova esquerda que denominamos hoje de “progressismo”. Em seu último livro, San Fransicko: Why progressives ruin cities, atacou de forma pesada, com tons mais elevados até que em Apocalypse never, o “progressismo” e a juristocracia “progressista” que arrastam os indivíduos para políticas demagógicas com resultados desastrosos para cidades e estados inteiros.
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Se querem minha opinião, o ecologista norte-americano claramente não abandonou sua visão político-econômica mais à esquerda, principalmente quando o assunto é redistribuição de renda por meio do Estado. Todavia, é um dos mais cotados para deixar os corredores dos Democratas, um dos que menos atrai olhares prazerosos no canto “progressista” norte-americano atualmente.
“[Shellenberger] vem atacando sistematicamente a cultura relativa aos transgêneros e as interferências médicas na puberdade infantil em prol da mudança cirúrgica de gênero”
Pedro Henrique Alves
A revista eletrônica Huffpost, por exemplo, denominou-o, em 2022, como um “centrista” que defende posições abertamente conservadoras. Em outra entrevista, ele já reconhece que é por meio do mercado que a energia segura e estável pode chegar aos cantões mais remotos e pobres do nosso planeta, auxiliando, por exemplo, no plantio mais profissional de famílias isoladas e na profissionalização de outras formas de cultivo e renda.
Sem falar que no Twitter/X, ele vem atacando sistematicamente a cultura relativa aos transgêneros e as interferências médicas na puberdade infantil em prol da mudança cirúrgica de gênero. Não à toa ele estará no Fórum da Liberdade este ano, o maior e mais importante evento liberal brasileiro.
Produção energética versus ecologia
Quanto à visão ecológica e energética de Shellenberger, confesso que tenho pouco a endossar ou me opor. Apenas reconheço sua experiência e estudos sérios a respeito do tema ecologia. Estudos esses que fundamentam sua visão cética e prudente com relação aos assuntos que aborda.
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Isso, por ora, me dá certa segurança em seguir algumas de suas sugestões. Como, por exemplo, o uso da energia nuclear e a aposta em cultivos disseminados e sustentáveis como meio de permear o trabalho rural. Não estou, a saber, falando de “cultivo familiar” ideológico, estilo MST, não confundam as bolas.
“O ambientalismo hoje tem 90% de ideologia em suas conclusões e, malemá, 10% de ciência”
Pedro Henrique Alves
Discordo de algumas posições mais políticas e filosóficas. Principalmente no ato de negligenciar o que me parece óbvio neste instante, que o ambientalismo hoje tem 90% de ideologia em suas conclusões e, malemá, 10% de ciência, que mais do que instrumento de poder como ele aponta, a pauta se tornou via de imposição tirânica de países poderosos, tal como a França ameaçando tomar a Amazônia brasileira durante o governo Bolsonaro, em 2021.
Hoje o ambientalismo é sim uma religião, como deixa entender o autor, é sim meio de poder e enriquecimento, mas é também a desculpa de ditadores e tiranetes para imposição de cartilhas ideológicas. Faltou desenvolver isso; A ideologia hoje é senhora da ecologia e do ambientalismo global, não o empirismo e a ciência testada.
A obra de Shellenberger tem um brilhantismo particular que merece nossa atenção. É um texto profundo, documentado e difícil de ser combatido, pois é esclarecedor e bem argumentado. Foi escrito por um dos maiores ambientalistas do mundo, nada “negacionista”, muito menos trumpista, bolsonarista ou conspiracionista qualquer.
Arrisco-me a dizer ainda que, depois de ler Apocalypse never a sua visão com relação à ecologia real, verdadeira, mudará, pois o que Shellenberger faz, afinal, é colocar o problema em seu tamanho real diante de nossos olhos, devolver às prateleiras de prioridades a posição correta da temática ecológica no plano geopolítico e geoeconômico. Um livro ainda extremamente atual, muito bem-vindo ao debate no mundo todo, mas ainda mais aqui no Brasil, onde o ambientalismo é a meretriz dos desejos da esquerda. Chega de jihadismo ambiental e ficção ecoapocalíptica.
Leia também: “A COP28 e a ideologia do ambientalismo”, artigo de Brendan O’Neill, da Spiked, publicado na Edição 196 da Revista Oeste