O último censo do ensino superior feito pelo Ministério da Educação, em 2020, revelou que o número de ingressantes em faculdades e universidades pela modalidade de educação a distância (EAD) naquele que foi o primeiro ano da pandemia de covid-19 ultrapassou o de ingressantes na modalidade presencial. Os números de 2022 ainda não estão disponíveis, mas a Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) acredita que o total de alunos na modalidade EAD já corresponda a mais de 50% dos alunos matriculados presencialmente no ensino superior, o que reflete em uma preocupação ainda maior dos especialistas com a qualidade do serviço prestado.
Educação é o tema escolhido por Oeste nesta segunda-feira, 15, dentro da série de reportagens “Desafios do Brasil”, que será publicada até o dia 30 de setembro, sempre seguindo a seguinte ordem de temas na semana: segunda-feira (Educação), terça-feira (Economia), quarta-feira (Agro e Meio Ambiente), quinta-feira (Justiça e Segurança Pública) e sexta-feira (Saúde). Veja aqui as reportagens do projeto Desafios do Brasil.
De acordo com o professor Luciano Sathler, membro do Conselho Científico da Abed, ainda antes da chegada da covid-19 já havia uma tendência de crescimento das matrículas na EAD, que foi acelerada pela pandemia. “Tudo indica que mais da metade da educação já está na EAD.”
Em 2011, 431,6 mil alunos ingressaram em cursos superiores pela modalidade EAD. Em 2020, o número saltou para 2 milhões, o que perfaz um crescimento de 365%. Já na educação presencial há uma tendência de queda: em 2011, foi 1,9 milhão de ingressantes contra 1,7 milhão em 2020. O câmbio de forma veloz entre as modalidades de ensino acendeu um alerta que causa preocupação entre os especialistas. Dois fatores, contudo, pensam na hora de classificar o ensino oferecido. “Tudo depende da instituição e da qualidade dos seus professores”, afirmou Sathler.
Os dados do censo escolar mostram que, quanto mais idade possui o estudante, maior a probabilidade de aderir à metodologia de EAD. Enquanto a média de idade dos ingressantes nos cursos presenciais é de 24,4 anos, a dos ingressantes nos cursos a distância, 31,6 anos. São pessoas que em geral buscam a primeira graduação ou a conclusão de mais um curso superior, normalmente com o objetivo de se aprimorar para o mercado de trabalho.
Déficit de aprendizado é desafio à qualidade
Um desafio que não é somente dos cursos a distância, mas do ensino superior como um todo, é o déficit de aprendizagem com o qual chegam os alunos às faculdades e universidades. “Esse não é um problema apenas da EAD, mas do presencial também. Temos alunos que chegam com déficit de aprendizagem muito grande, porque tiveram educação básica muito problemática. Isso demanda cuidado, mediação, personalização nas relações de ensino e aprendizagem”, afirma o professor Luciano Sathler.
As palavras-chave para manter ou aumentar a qualidade da EAD e, inclusive melhorar o desempenho dos alunos com déficit na educação básica, são interação e mediação, segundo os especialistas. Além disso, a EAD não pode ser entendida apenas como a disponibilização de aulas gravadas ou da mera aula expositiva.
Para que a mediação e a interação aconteçam, é necessário, no entendimento do professor, observar qual a quantidade de professores disponibilizados para cada grupo de alunos, proporção hoje não fiscalizada pelo Ministério da Educação. Essa proporção não pode ser muito distante daquela encontrada no ensino presencial. “Há um número limite de pessoas com as quais se consegue interagir durante a semana, independente se é presencial ou a distância”.
Além disso, outro indicador importante da qualidade dos cursos superiores é o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), realizado anualmente pelo MEC, que pontua os cursos levando em consideração diversos critérios, como a pontuação do aluno e a estrutura das instituições. Mensalidades muito baixas também podem indicar a falta de qualidade da instituição, sugeriu o professor, já que os principais custos dos cursos a distância são com professores qualificados e em número suficiente.
Convivência: uma das dificuldades do EAD
O professor brasileiro Gustavo Bertoche, doutor em filosofia, que hoje é pesquisador em uma universidade de Portugal, é um crítico do ensino superior à distância. Ele acredita que a qualidade do ensino tende a diminuir ainda mais com a proliferação de cursos à distância.
“Há cursos livres excelentes, bons cursos em várias áreas on-line, mas minha crítica é que não pode haver formação universitária à distância”, resumiu.
Para ele, que é autor de livros sobre educação, como o Escola Brasileira: Notas sobre um Desastre, a formação universitária não é somente teórica, é também vivencial. “Se não fosse assim, você poderia fazer uma formação universitária lendo livros, assistindo a vídeos. A diferença é que na universidade, presencialmente, há uma troca contínua de informações, de comunicações intelectuais, que acontece por vários anos todos dias”, ilustrou.
A vivência universitária, segundo o professor, envolve um conhecimento tácito, impossível de ser passado pelas telas. Bertoche também não acredita que a EAD democratize o acesso ao ensino superior. “Você pode ter um diploma e não saber o que é uma universidade, afirma. Para o professor, com a ampliação das vagas EAD, o “abismo” entre aqueles que podem investir mais, inclusive tempo, para ter uma formação superior, e os que fazem cursos EAD será ainda maior.
Não há como nós não identificarmos e não nos adequarmos ao melhor, desde que queiramos; nossa capacidade é inimaginável pra produzir tudo que a sociedade necessite para seu melhor desenvolvimento.
Devemos ter em mente, também, que o ato de aprender é interno, intrínseco a cada indivíduo, cujo avanço tem a ver com suas próprias características e os estímulos externos necessários.
Sendo assim, o trato do aluno com a realidade é vital para o despertar e continuidade do processo de aprendizado, até se tornar uma espécie de auto ditada, o que geralmente ocorre com o indivíduo quando já se encontra fora da escola e dando conta das atividades ligadas a sua profissão.
Outro aspecto vital, para o Brasil, é impedirmos a continuidade da hegemonia marxista praticada covardemente pelo nosso sistema de Ensino; caso contrário, presencial ou não, continuaremos não formando cidadãos adequados à maioria das demandas sociais, mas, apenas talvez bons profissionais e absolutamente alienados em relação à vida.