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Edição 209

Sem freios nem contrapesos

Quando não há equilíbrio entre os Poderes, existe a imposição da vontade, do arbítrio, e não da lei e do interesse médio comum ou da maioria

Alexandre Garcia
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Montesquieu imaginou o equilíbrio entre os Poderes do Estado, para funcionar harmonicamente a democracia, como um sistema de freios e contrapesos, em que os Três Poderes de Estado mutuamente se controlam. Em seu site, o Conselho Nacional do Ministério Público dá exemplos disso: “O Legislativo julga o presidente da República e os ministros do Supremo; o presidente da República tem poder de veto a projetos aprovados no Congresso; o Judiciário tem poder de anular atos inconstitucionais ou ilegais dos demais Poderes”. É bom lembrar que, pela Constituição, compete ao Ministério Público “zelar pelo efetivo respeito dos Poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados”. Ao Poder Legislativo cabe expressamente fiscalizar e controlar os atos do Executivo e zelar pela preservação de sua própria competência, como manda a Constituição.

Sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília, onde fica o centro administrativo do Ministério Público Federal (MPF) | Foto: Wikimedia Commons

Não custa lembrar que, ao garantir a liberdade de informação sem censura, a Constituição pressupõe que, entre os freios e contrapesos, há controle da mídia sobre os órgãos do Estado. “Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social.” Isso quer dizer que também a mídia integra o sistema de freios e contrapesos. Ainda mais importantes nesse controle são as garantias da cláusula pétrea da Constituição: a livre manifestação do pensamento, vedado o anonimato; o direito de resposta; o acesso à informação; a liberdade de reunião pacífica.

Quando havia o monopólio da informação, poderia haver também o monopólio da mentira

Esse amplo conjunto de forças é como uma convergente assembleia nacional em que Poderes e interesses se digladiam, debatem, se somam, se misturam e convivem, resultando no que chamamos de democracia. Quando há freios e contrapesos, como pensou Montesquieu, há equilíbrio. Quando não há, existe a imposição da vontade, do arbítrio, e não da lei e do interesse médio comum ou da maioria. Aí, não é democracia. Sobretudo quando a vontade de poucos se sobrepõe à Constituição e fere direitos básicos — aí é sinal de que o sistema já se desequilibrou, sem freios e sem contrapesos. 

Retrato de Montesquieu por Jacques-Antoine Dassier | Foto: Wikimedia Commons

Quando a voz das ruas se perde na indiferença dos palácios; quando a voz da mídia se cala e não reflete as opiniões nacionais; quando a voz dos legisladores se acovarda e o Congresso deixa de ser caixa de ressonância da nação; quando há vozes monocráticas; então é preciso pensar o que se quer para a atual e as futuras gerações de brasileiros vitimadas pelo esquecimento da importância vital da Constituição; ou que — alienadas ou ingênuas — não sabem que o Estado existe para servir a nação, e não para tolher-lhe as liberdades e garantias de Direito e Justiça.

O progresso da tecnologia contribuiu para reparar desvios na democracia. Se uma parte da mídia tradicional se omite ante o desrespeito à Constituição e o avanço do arbítrio, as redes sociais dão voz ao povo, que passa a dispensar seus porta-vozes omissos. Quando havia o monopólio da informação, poderia haver também o monopólio da mentira, sem canais para contestá-la. Hoje, a mentira não permanece, mesmo a mentira nas redes sociais. Em cinco minutos, a verdade se contrapõe à falsidade. O “Quarto Poder” tem agora também as redes sociais. Hoje todos somos responsáveis, mas, acima de tudo, quem está com o compromisso de responder perante a nação pelo desequilíbrio causado pelo poder desenfreado são aqueles que, por dever de ofício, juraram manter, cumprir e defender a Constituição.

Foto: Shutterstock

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11 comentários
  1. MARIA DE LOURDES FERNANDES CAUDURO
    MARIA DE LOURDES FERNANDES CAUDURO

    Excelente artigo Alexandre Garcia! Esclarecedor! Meu pai e teu amigo Gen Mário, se estivesse entre nós, também aplaudiria. Grande abraço!

  2. Vanessa Días da Silva
    Vanessa Días da Silva

    Magnifico artigo

  3. Arnaldo Feliciano
    Arnaldo Feliciano

    É triste mas temos de admitir, um Congresso, fraco, inundado por processos, vendidos e comprados por sua própria natureza, se rendem a nesfastos interesses, agendas e negociatas. O povo de mãos atadas, boca calada, assiste, vivência a triste realidade que assombra, sobre nossas cabeças. DEUS ACIMA DE TUDO E BRASIL ACIMA DE TODOS

  4. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Obviamente o avanço da tecnologia e da Internet permite a troca de informações sob qualquer nível de sociedade, até nas ditaduras a informação chega, e isso tá tirando o sossego dos tiranos

  5. Valdy Fernandes da Silva
    Valdy Fernandes da Silva

    Percebi que a Revista Oeste trocou o termo “velha mídia” por “impressa tradicional”; o que aconteceu para justificar essa mudança de conceito?

  6. Gustavo Gameiro
    Gustavo Gameiro

    Excelente artigo. Parabéns Alexandre!

  7. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Com a palavra o Congresso Nacional na pessoa do seu Presidente Rodrigo Pacheco que ficará registrado na história como o pior presidente que o Congresso experimentou em 134 anos de República.

  8. Sidevaldo Macedo
    Sidevaldo Macedo

    O povo tem que reagir. Se a população esperar pelo Congresso, que é quem pode fazer alguma coisa, pode ser tarde demais.

  9. Clovis Manoel Pena
    Clovis Manoel Pena

    Plebiscito pela reforma constitucional já !!!!!!!!!

  10. Djalmir Caparroz Salas
    Djalmir Caparroz Salas

    Boa noite. Eu, DJALMIR CAPARRÓZ SALAS, quero continuar a ser LIVRE, quero ter o DIREITO de tirar os políticos corruptos da direção do país, quero PROFESSAR MINHA RELIGIÃO CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA, quero ter o DIREITO de IR para onde eu quiser, de FALAR o que penso e responder pela minha opinião, de poder ESCOLHER quem irá dirigir o país. Eu votei em políticos que se diziam defensores da DEMOCRACIA. Não na “democracia” que comunistas/socialistas defendem. Acredito que boa parcela dos brasileiros também votou em políticos que diziam estar realmente determinados a defender a nação brasileira contra o comunismo/socialismo. Eu fico TRISTE … TRISTE… TRISTE… MUITO TRISTE … DECEPCIONADO MESMO COM ESSES POLÍTICOS EM QUEM VOTEI E FORAM ELEITOS, QUE SE DIZIAM DEFENSORES DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL e ver que apesar de todas as atitudes de um poder que se considera acima dos outros, mesmo assim, esses POLÍTICOS que disseram que me defenderia no Congresso não reagem. OS POLÍTICOS QUE FORAM ELEITOS PARA NOS DEFENDER DO COMUNISMO/SOCIALISMO, NÃO FAZEM NADA DE EFETIVO, NÃO TOMAM NENHUMA ATITUDE EFICAZ PARA IMPEDIR OU ENFRENTAR AS ATITUDES E DECISÕES DO PODER QUE ESTÁ SE COLOCANDO ACIMA DE TUDO E DE TODOS. Eu acredito e defendo o BRASIL ACIMA DE TUDO E DEUS ACIMA DE TODOS. O POVO não tem “armas” para se defender a não ser os congressistas, QUE PENA… Eu acreditava e esperava que os políticos que ajudei eleger para o Congresso tivessem CORAGEM, MORAL, HOMBRIDADE, para enfrentar os políticos comunistas/socialistas e defendessem os anseios e desejos do povo brasileiro. Salvo melhor juízo, essa é minha opinião.

  11. MNJM
    MNJM

    Atualmente temos apenas um poder que se acha soberano, impondo a Ditadura do Judiciário.
    Não temos respeito a Constituição.

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