A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) propôs à CPMI do 8 de Janeiro um requerimento de convocação para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro depor ao colegiado. É a primeira vez que um parlamentar oficializa a convocação da mulher do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Como argumento, Jandira menciona os comprovantes de depósitos em dinheiro que foram encontrados no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
“Foram encontrados comprovantes de depósitos feitos por Cid na conta de Michelle, entre março e agosto de 2021, e solicitações de saques em dinheiro vivo entre março e outubro do mesmo ano”, explicou a parlamentar no documento, que foi protocolado na sexta-feira 21.
Desse modo, para a deputada, a convocação de Michelle à CPMI se justifica diante das “evidências” da “ligação” dela com um dos “possíveis mentores” — que seria Cid –, dos atos de depredação que aconteceram em 8 de janeiro.
Parte da ala da oposição na CPMI, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) disse a Oeste que planeja derrubar o requerimento da deputada governista.
“Conforme já foi esclarecido, esses pagamentos eram feitos com recursos da conta pessoal do presidente e, por isso, eram realizados os depósitos”, declarou a senadora. “Este requerimento está revestido de hipocrisia. Michelle não era mais primeira-dama do Brasil em 8 de janeiro e o objeto da CPMI são os atos do dia 8. Se a deputada Jandira quer tanto ouvir uma primeira-dama, vamos trazer a dona Janja, que ocupava o posto na data.”
PF identifica depósitos feitos a Michelle
Em maio deste ano, a Polícia Federal (PF) identificou depósitos em dinheiro, de R$8,6 mil, feitos por Cid a Michelle. As operações bancárias foram descobertas durante uma investigação sobre supostos desvios de recursos do Palácio do Planalto no governo Bolsonaro.
A polícia descobriu ainda áudios de Cid para assessoras de Michelle em que se fala sobre o pagamento de contas da ex-primeira-dama e de familiares dela — como um irmão e uma tia. Ao menos seis operações teriam ocorrido entre março e maio de 2021.
CPMI já ouviu Mauro Cid
Em 11 de julho deste ano, Mauro Cid depôs à CPMI. Usando um habeas corpus que conseguiu no Supremo Tribunal Federal, Cid usou o silêncio como resposta a todas as perguntas dos parlamentares. Ele, contudo, deveria responder os questionamentos que não produzissem provas contra si próprio, mas não o fez.
Fardado, Cid falou apenas no início da oitiva sobre a própria trajetória no Exército e explicou que o cargo que ocupava na gestão do ex-presidente era uma escolha das Forças Armadas, e não de Bolsonaro.
O militar está preso há mais de dois meses devido a uma operação da PF que apura fraudes em carteiras de vacinação. Aos membros do colegiado, Cid deveria falar sobre o conjunto de mensagens e de documentos encontrados pela PF no celular dele.
A coluna No Ponto analisa e traz informações diárias sobre tudo o que acontece nos bastidores do poder no Brasil e que podem influenciar nos rumos da política e da economia. Para envio de sugestões de pautas e reportagens, entre em contato com a nossa equipe pelo e-mail [email protected].