Falar sobre educação é como tocar em uma ferida, sobretudo em um país onde mais de 40% das crianças entre 6 e 7 anos não sabem ler nem escrever, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Não é de hoje que muito se fala sobre a falência da educação brasileira, entretanto, nos últimos dois anos, um agravante piorou o que já estava ruim. A pandemia de covid-19 deixou praticamente 100% das escolas públicas fechadas com a política do “fique em casa”. O resultado foi um ensino à distância mais decadente do que o presencial e a alfabetização em um processo de decadência.
Conforme o levantamento realizado no ano passado pela ONG Todos pela Educação (TPE), com dados do IBGE, a pandemia foi a principal responsável pela piora da alfabetização infantil. O déficit prejudica a aprendizagem da criança nas demais áreas do conhecimento escolar. As habilidades de leitura e escrita são primordiais para o desenvolvimento social e humano do infante.
Educação é o tema escolhido por Oeste nesta segunda-feira, 22, dentro da série de reportagens “Desafios do Brasil”, que será publicada até o dia 30 de setembro, sempre seguindo a seguinte ordem de temas na semana: segunda-feira (Educação), terça-feira (Economia), quarta-feira (Agro e Meio Ambiente), quinta-feira (Justiça e Segurança Pública) e sexta-feira (Saúde). Veja aqui as reportagens do projeto Desafios do Brasil.
No Brasil, cerca de 80% dos alunos de ensino fundamental e médio estudam na rede pública, de acordo com dados apontados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad). Em média, a União investe cerca de R$ 90 mil por estudante ao longo dos 14 anos da educação básica (pré-escola, ensino fundamental I e II e ensino médio), aponta um levantamento da Fundação Roberto Marinho e do Insper.
“O não ensinar encontra raízes em Paulo Freire”
Para a ex-secretária de Educação Básica do Ministério da Educação Ilona Becskehazy, doutora em política educacional pela Universidade de São Paulo (USP), os dados reais da alfabetização brasileira são piores que os que o IBGE aponta. “Quando os pesquisadores vão à casa das pessoas, muitas delas consideram saber ler quando a criança lê somente um nome”, explicou. “Um aluno do 3° ano do ensino fundamental sabe ler palavras, não livros maiores, como em Portugal ou em outros países avançados.”
O problema do analfabetismo possui raízes bem mais profundas do que aparenta. Os professores brasileiros não sabem alfabetizar, segundo Ilona. A especialista realizou sua pesquisa de doutorado sobre o caso de Sobral, no Ceará, líder em educação no Brasil.
“A equipe de Sobral fez um parecer técnico para compreender os dilemas da alfabetização e entenderam que os professores não sabem o que significa alfabetização”, observou Ilona. “Eles usam o termo letramento, uma terminologia ultrapassada que não segue os padrões internacionais de ensino.”
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Os especialistas alegam que, para definir alfabetização, existe uma técnica que utiliza diversos fatores, como leitura com fluência, cronometragem de palavras por minuto com compreensão, utilização de livros didáticos de alto nível e monitoramento da aprendizagem conforme os padrões internacionais. “Não usamos isso no Brasil, só aconteceu em Sobral”, explica.
A doutora em política educacional afirma que os cursos de pedagogia ofertados no Brasil não ensinam métodos de alfabetização. “Só vi um pouco disso no curso de magistério”, disse. “Existem técnicas para aprimorar a leitura e fazer com que a criança olhe a palavra e leia rapidamente. Além disso, há a escrita que auxilia no processo de leitura. É necessário usar uma boa cartilha didática.”
Outro fator importante é a relação entre a renda familiar e a alfabetização no Brasil. Uma pesquisa do TPE (2017) mostrou que entre as crianças pertencentes a uma família que recebe até um salário mínimo, apenas 45% têm o nível adequado de alfabetização.
Em contrapartida, aquelas que são de famílias com renda familiar de até sete salários mínimos possuem 98% do nível adequado de leitura e escrita. Nos moldes atuais, a renda da família é o maior preditivo de alfabetização. “As famílias com mais renda e vocabulário conseguem auxiliar bem mais no processo de aprendizagem”, disse Ilona.
“Existe um preconceito contra o treino intelectual”
Esse aluno, outrora com 5 e 7 anos, vai crescer. Com a progressão continuada vai passar de ano na escola e talvez até conclua o ensino médio. No entanto, esse déficit na leitura e na escrita vai persegui-lo sempre. Cerca de 48% dos brasileiros com 25 anos ou mais terminaram a educação básica obrigatória. Já pouco mais de 50%, com a mesma faixa etária, não haviam concluído, até 2019.
No âmbito universitário os números também assustam. Quase 40% dos estudantes não dominam habilidades básicas de leitura nem escrita. Isso significa que os universitários conseguem ler e escrever, mas são incapazes de interpretar textos e agregar informações. Os dados são do Indicador de Alfabetismo Funcional, que avalia o nível de analfabetismo da população brasileira entre 15 e 64 anos.
Método fônico
“Os aspectos fônicos da alfabetização quase não são usados no Brasil”, expõe a especialista. A Política Nacional de Alfabetização (PNA), decretada em abril de 2019, parte do princípio de que as crianças aprendem a ler por meio da relação entre o som da fala e a escrita.
Assim, a PNA propõe a ênfase do ensino fônico em seis componentes: consciência fonêmica, instrução fônica sistemática, fluência em leitura oral, desenvolvimento de vocabulário, compreensão de textos e produção de escrita. Isso tudo deve estar apoiado em bons currículos e boas práticas de alfabetização que possuem evidências.
Segundo ela, se a criança não entender esse princípio, não vai criar uma memória de leitura no cérebro. “Esse é um treino negligenciado no Brasil”, afirmou a especialista. “O preconceito é contra o treino intelectual. Toda literatura afirma que o treino ajuda muito.”
Temos, hoje, semi-analfabetos incapazes de articular raciocínio e deduzir logicamente a solução de um problema, qualquer problema, ainda que sejam os problemas comezinhos da vida. Tais como por papel em impressora sem papel para impressão, verificar a solução da falta de tinta, comprar insumo básico para trabalhar, dispor de meios para se vestir. Tudo passa pela tutela de “alguém” (“Alguém” tem que resolver isso). Ou então é culpa de “ninguém” (“Ninguém” limpou o que estava sujo). Continuam, portanto, oprimidos pela baixa remuneração e reconhecimento, uma vez que não tem qualquer qualificação. Ao se perguntar “Cite um motivo para aumentar seu salário”, obtém-se um silêncio sepulcral.
A qualidade dos professores deveria também ser avaliada. Quando se fala nisso, a justificativa é de que o professor ganha mal, por isso também não ensina. Se compararmos o salário dos professores com o de outras carreiras no mercado privado, com o mesmo nível de formação, vemos que os salários são até inferiores. O problema que deveria ser abordado é de que, quem manda no ensino são os sindicatos de professores. Nenhum político ousa desafiá-los e, para esses sindicatos, o que há de menos importante são os estudantes. Lutam contra qualquer medida que vise premiar professores pelo desempenho. Também a estabilidade é outra chaga, impedindo que maus professores possam ser simplesmente demitidos. Muita coisa errada.
Rute
Saudações.
Nesse projeto sobre educação no Brasil, sugiro a inclusão do sistema universitário. Algo necessário deve ser feito pelo governo para salvar a universidade brasileira e, melhorar a qualidade de nosso sistema universitário. Sugiro a elaboração e execução de um bom Plano de Política Universitária para o Brasil, algo que jamais foi feito.
O pior de tudo é que se perguntarem o quê é “RAIZ de 5″, vão responder : ” é um 5 plantado na terra para ver se dar raiz”. Está nesse nível!
Culpa do “fenômeno” Paulo Freire de merda, com o PT e a turma que não sabe nem nossa língua coloquial e ainda querem falar “EM TODES”. Grandes merdas!
Sob opressão ideológica, todo oprimido continuará oprimido.
Muito bom comentário.
Sei… rsrs.
Não acredito, temos um método de ensino dos melhores do planeta, é tão bom que só é utilizado aqui em Banânia, método este desenvolvido por uma inteligência raríssima, digno de um prêmio nobel, o magnífico Paulo Freire.