A Mynd8 se manifestou sobre o recente escândalo que envolve a empresa. No comunicado desta quinta-feira, 4, a agência especializada em entretenimento não cita o nome da estudante Jéssica Vitória Canedo, de 22 anos, que cometeu suicídio depois de ser alvo de difamação dos perfis de fofoca Garotx do Blog — até então vinculado à agência — e Choquei, um de seus principais ex-parceiros de conteúdo.
A empresa se manteve em silêncio desde 22 de dezembro do ano passado, quando a jovem mineira tirou a própria vida. Ao longo desses 14 dias, Oeste produziu diversas reportagens sobre o assunto, que inspiraram a produção do documentário Choquei — Lacrando Vidas, do empresário Daniel Penin. Em apenas dois dias, o curta-metragem superou 2 milhões de visualizações no YouTube.
No comunicado, a Mynd8 alega que a empresa e seus colaboradores se tornaram alvo de ataques sistemáticos e organizados. E informa que vai processar os responsáveis pelas supostas ofensas.
Ponto a ponto: o que diz a nota da Mynd8
Por ser uma agência de marketing de influência, a Mynd8 informa que cuida exclusivamente da intermediação de venda de publicidade em perfis nas redes sociais. Diz ainda que em nenhum momento definiu os conteúdos a serem publicados nas páginas pessoais dos influenciadores.
“Porque todos os perfis agenciados são livres, totalmente independentes e tem conteúdo administrado apenas por suas donas e por seus donos”, alega a Mynd8. “Afirmamos publicamente que jamais orquestramos postagens em conjunto de nenhuma forma ou criamos estratégia de cunho político para nenhum campo ideológico a não ser divulgação de ações publicitárias, contratadas pelas empresas que atendemos e ativadas pelas pessoas que agenciamos.”
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Mas em abril de 2022, quando os ânimos dos brasileiros começavam a se acirrar por causa das eleições que ocorreriam em outubro daquele ano, a agência decidiu criar uma campanha para incentivar os jovens a tirarem o título de eleitor.
Ao lado da empresa Chango Digital, que também atua no setor de marketing de influência, a Mynd8 centrou seus esforços em brasileiros de 15 a 18 anos. Um vasto elenco de artistas participou da campanha, como Luísa Sonza, Pabllo Vittar, Tia Má, Gkay e Camilla de Lucas, pela Mynd8; e Vanessa Lopes, Vivi Wanderley, Foganoli e Clara Garcia, pela Chango Digital.
A campanha estabeleceu uma conexão entre os mais de 400 influenciadores agenciados pelas empresas, que tentaram convencer o público jovem sobre a necessidade de escolher um candidato à Presidência. Naquele período, 5 milhões de brasileiros se enquadravam no público-alvo e ainda não possuíam o título de eleitor.
Durante três dias, os influenciadores compartilharam diversas publicações sobre o assunto nas redes sociais. A hashtag #EhTudoDigital ajudou as agências a mobilizarem os jovens. Meses depois, com a proximidade das eleições, os artistas que participaram da campanha, e os influenciadores associados às empresas endossaram a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.
Pluralidade à esquerda
Na conclusão da nota, a Mynd8 afirma que defende uma sociedade livre, tolerante, plural e democrática. Apesar disso, a empresa tem um casting formado majoritariamente por influenciadores de esquerda. E o espaço para comentários na publicação desta quinta-feira, por exemplo, continua fechado para o público.
Mas não para aí. Quatro anos antes da elaboração dessa nota, a CEO da Mynd8, Fátima Pissarra, ironizou aqueles que decidiram votar em Jair Bolsonaro nas eleições de 2018.
Meses antes daquele tuíte, em 5 de setembro de 2022, Fátima admitiu que a agência é abertamente favorável a determinada ideologia.
Para os críticos, o maior problema da Mynd é a falta de diversidade do seu casting.
— Rodrigo da Silva (@rodrigodasilva) December 23, 2023
A ampla maioria dos seus agenciados possuem posicionamentos políticos muito parecidos e trabalham para impulsionar (e criticar) as mesmas ideias e os mesmos candidatos. pic.twitter.com/FYwx4alJaU
“A gente vive num país em que [sic] a gente instrui as pessoas a se posicionarem, e não a ficarem caladas”, justificou Fátima, em entrevista ao canal do UOL no YouTube. “A gente tem um perfil de casting com posicionamento político claro. Então, não tem como a gente falar que é melhor ficar quieto.”
Já em 8 de agosto de 2023, na terceira passagem de Lula pelo Planalto, a CEO da Mynd8 compartilhou uma imagem em que aparece o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida.
“Sigo com conversas ecoando aqui na minha cabeça, agradecido pela rede que vai se formando a cada encontro e cheio de energia para seguir o caminho que acredito”, escreveu Fátima, na publicação. “Pessoas incríveis que estão, cada um no seu espaço, trabalhando para um país mais justo, inclusivo e diverso.”
A cronologia da tragédia
- Ato 1: 18/12/2023 — O perfil Garotx do Blog, parceiro da Mynd8, divulga imagens falsas de um suposto diálogo amoroso entre o humorista Whindersson Nunes e a estudante Jéssica Vitória Canedo;
- Ato 2: 18/12/2023 — Whindersson afirma que as imagens são falsas, diz que não conhece Jéssica e pede aos perfis de fofoca que não compartilhem o suposto diálogo;
- Ato 3: 18/12/2023 — O Choquei, ex-parceiro da Mynd8, e aproximadamente 30 páginas similares aderem à onda de difamação contra Jéssica;
- Ato 4: 19/12/2023 — A estudante se torna alvo dos seguidores dos perfis de fofoca, que passam a desmoralizá-la nas redes sociais;
- Ato 5: 20/12/2023 — Jéssica usa as redes sociais da mãe, Inês Oliveira, para pedir às páginas que parem de difamá-la;
- Ato 6: 20/12/2023 — Raphael Souza, o criador do Choquei, debocha da jovem: “Avisa para ela que a redação do Enem já passou”, diz, referindo-se ao texto em que a estudante clama por socorro. “Pelo amor de Deus!”
- Ato 7: 20/12/2023 — A mãe de Jéssica divulga um vídeo nas redes sociais e reforça o pedido da filha: “Parem”;
- Ato 8: 21/12/2023 — Os perfis de fofoca não apenas mantêm as publicações no ar, como também endossam o linchamento virtual contra Jéssica;
- Ato 9: 22/12/2023 — A estudante comete suicídio, três dias depois do início da onda de difamação;
- Ato 10: 22/12/2023 — A família confirma a morte da jovem;
- Ato 11: 22/12/2023 — O caso ganha repercussão, e Raphael Sousa decide trancar seu perfil;
- Ato 12: 22/12/2023 — Choquei mantém a publicação sobre Jéssica e continua a cobrir o noticiário de subcelebridades;
- Ato 13: 23/12/2023 — Posts do Choquei no Twitter/X recebem aviso de fake news;
- Ato 14: 23/12/2023 — Choquei divulga nota e nega responsabilidade em morte de Jéssica. A nota é assinada por pela advogada Adélia Soares, ex-participante do Big Brother Brasil e acusada de estelionato;
- Ato 15: 23/12/2023 — Silvio Almeida usa caso do Choquei para pedir regulação das redes sociais;
- Ato 16: 23/12/2023 — Deputado Gustavo Gayer pede investigação contra Mynd8 junto ao MPF;
- Ato 17: 23/12/2023 — Depois da repercussão do caso, advogada decide abandonar a defesa do Choquei;
- Ato 18: 23/12/2023 — Whindersson se manifesta pela primeira vez sobre o caso;
- Ato 19: 23/12/2023 — A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, culpa a “falta de responsabilização” das redes por suicídio de Jéssica;
- Ato 20: 23/12/2023 — Documentário mostra como perfis de fofoca influenciam a internet;
- Ato 21: 23/12/2023 — Choquei suspende publicações nas redes sociais;
- Ato 22: 24/12/2023 — Michelle Bolsonaro diz ter sido “vítima da maldade” do Choquei;
- Ato 23: 24/12/2023 — Especialista em Direito Digital defende punição em mortes como a de Jéssica: “Houve intuito de difamar”;
- Ato 24: 24/12/2023 — Whindersson Nunes pede criação de “Lei Jéssica Vitória”;
- Ato 25: 24/12/2023 — Polícia Civil estuda ouvir o Choquei, em investigação sobre a morte de Jéssica;
- Ato 26: 25/12/2023 — Choquei perde 1 milhão de seguidores desde a morte da jovem mineira;
- Ato 27: 25/12/2023 — Mãe de Jéssica Canedo rompe o silêncio e lamenta a morte da filha;
- Ato 28: 26/12/2023 — Oeste divulga a reportagem sobre a Mynd8, que recebeu R$ 1 milhão em contratos com o governo brasileiro;
- Ato 29: 26/12/2023 — A Mynd8 se manifesta sobre o caso de difamação;
- Ato 30: 27/12/2023 — Depois do escândalo sobre o Choquei, Lula assina decreto de “regulação cibernética”;
- Ato 31: 27/12/2023 — Polícia Civil estuda ouvir Whindersson Nunes;
- Ato 32: 27/12/2023 — Família de Jéssica se manifesta;
- Ato 33: 28/12/2023 — Dono do Choquei presta depoimento à Polícia Civil de Minas Gerais;
- Ato 34: 29/12/2023 — Choquei é investigado por indução ao suicídio e quebra de sigilo;
- Ato 35: 1º/1/2024 — Agência de Preta Gil, Mynd8 omite parceria com perfis de fofocas, dois dias depois da morte de Jéssica;
- Ato 36: 1º/1/2024 — Reportagem de Oeste embasa documentário sobre a Mynd8; e
- Ato 37: 2/1/2024 — Site da Mynd8 fica fora do ar, depois do lançamento do documentário Choquei — Lacrando Vidas; e
- Ato 38: 4/1/2024 — Mynd8 se manifesta sobre o caso, 14 dias depois do suicídio de Jéssica
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Cadê o inquérito do fim do mundo nessas horas???
Fazendo apenas a própria narrativas. Canalhas, mil vezes canalhas
Durante o silêncio, estavam combinando com o consórcio imprensa-stf-pt qual a estratégia para passar de vilões a vítimas. O pior é que vai colar.
Cão que ladra não morde.
Ela está mais suja do que pau de galinheiro…
Sabem que tem a proteção do stf
Lí o Comunicado da Mynd8 e não consegui identificar nenhuma ameaça de processar qualquer internauta, apenas queixas. De onde vocês tiraram isso?
No rodapé tem uma instrução: “Ver mais no Instagram”, como não tenho esse aplicativo, pode ser que esteja lá, essa ameaça de processo. Mas sempre se aplica aquele conselho: “A melhor defesa é o ataque”, é óbvio que eles irão fazer isso.