A propaganda eleitoral no rádio e na televisão tem início nesta sexta-feira, 26, e promete primar por ataques e discursos de medo, tanto nas inserções de Jair Bolsonaro (PL) quanto nas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os dois candidatos mais bem colocados na disputa pela Presidência da República. Nos lados opostos, os marqueteiros trabalham para mostrar ao eleitor que o que um candidato defende, o outro abomina. É assim que, sucessivamente, as duas campanhas querem captar votos.
Integrantes do núcleo duro das duas campanhas ouvidos pela Oeste nos últimos dias apontam que nem temas colocados historicamente como universais serão sustentados de formas semelhantes pelos candidatos em questão. É exatamente na diferença que Lula e Bolsonaro querem cativar o eleitor. Ao todo, mais de 156 milhões de eleitores estão aptos a votar nas eleições deste ano.
No caso da saúde, por exemplo, enquanto Jair Bolsonaro defende a manutenção do teto de gastos, que desde o governo de Michel Temer reduziu os investimentos na área a fim de evitar um colapso nas contas públicas, Lula é a favor de um rompimento completo da medida, em uma perigosa sobrecarga anunciada das finanças do país.
Bolsonaro, por sua vez, é favorável aos investimentos privados, com o fortalecimento de planos de saúde para atender a população em detrimento do Sistema Único de Saúde (SUS), bancado unicamente pelo Estado. Lula, de outro lado, defende que o sistema de saúde do Brasil precisa ser público, gratuito e de acesso universal, com suas despesas pagas pelo governo, ou, mais bem colocado, pelos contribuintes, que torneiam com o pagamento de impostos a chave dos cofres públicos.
Por esse motivo, nem mesmo bandeiras históricas erguidas como necessárias para a melhoria nas estruturas sociais e econômicas do país conseguiram se manter apartadas da disputa. É o caso da Reforma Trabalhista, que já foi sustentada por Lula em 2007, logo no começo do seu segundo mandato no Planalto. Agora, aprovada por Bolsonaro, é rejeitada pelo petista, que quer revogar trechos e acrescentar mudanças consideráveis no texto, como a que inclui trabalhadores de aplicativos na Previdência Social. Dessa forma, a categoria passaria a ser reconhecida como assalariada, aumentando os encargos do empregador. Exatamente o que Bolsonaro não quer.
Para garantir a proteção aos empresários, o candidato à reeleição admite fazer uma mudança na legislação, para constar a proibição de reconhecimento de vínculo empregatício para trabalhadores de aplicativos. A pauta é tão polêmica que, embora tenha tido as conversas iniciadas no Ministério da Previdência, foi paralisada neste período eleitoral exatamente para evitar divergências e manifestações contrárias.
Outra divergência dos candidatos que caminham em busca de uma mesma conquista está na estrutura governamental. Atualmente com 23 ministérios, Bolsonaro pretende manter a envergadura política, que promete ser inflada caso Lula vença as eleições presidenciais. O petista já anunciou que irá recriar cinco pastas que Bolsonaro cortou da estrutura: Cultura, Planejamento, Igualdade Social, Direitos Humanos e de Pesca. Lula ainda terá uma nova estrutura, só para abrigar as Causas Indígenas. Serão, no mínimo, 29 ministérios, em um caminho inverso à redução que o governo federal vem implementando nos últimos anos, desde que o PT deixou o comando do país. Dilma Rousseff, por exemplo, tinha 32 ministérios. Michel Temer, quando assumiu, reduziu o número para 23, mesma estrutura mantida por Bolsonaro.
Ataques e medos na busca pelo eleitor
Mesmo que possa parecer hermético, é quando amplificam as diferenças entre as propostas de governo que as coordenações das campanhas eleitorais de Jair Bolsonaro (PL) e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) corroboram de ideias semelhantes. Contudo, não para o que seria um projeto de governo em comum para o Brasil, mas sim para enfraquecer o adversário no discurso mais convincente no caminho que leva até a vitória nas urnas. Em ambos os casos, as apostas se concentram em temores da população – como casos de corrupção e rompimento do sistema democrático – para tentarem conquistar os eleitores.
É assim que Fabio Wajngarten, coordenador de comunicação da campanha de Jair Bolsonaro, enfatiza o carimbo de escândalos de corrupção que compuseram os governos de Lula como uma das estratégias para atrair o eleitorado para Bolsonaro. Empresário do setor de pesquisa de mídia, Wajngarten apoiou Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 e auxiliou o presidente a se aproximar da comunidade judaica. Com a vitória de Bolsonaro, Wajngarten chegou a ser Secretário Especial de Comunicação Social (Secom) do Ministério das Comunicações. Saiu dos holofotes, mas nunca deixou de atuar nos bastidores do Palácio.
“O nosso projeto é de um Brasil sem corrupção, um país que cuida dos brasileiros sem demagogia e sem desviar o dinheiro público, como fizeram os governos do PT. Por isso tem de ser diferente”, afirma Wajngarten à reportagem.
“Administrar a economia com responsabilidade fiscal é um compromisso do nosso governo. Não fazemos demagogia com o dinheiro público. Quando as contas são tratadas com objetivos puramente eleitoreiros, como fizeram os governos do PT, o resultado é a inflação que atinge os menos favorecidos, é a quebra da credibilidade da economia”, complementa ele.
Do lado petista, o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), que é um dos integrantes do núcleo duro da campanha de Lula, busca colar no atual governo de Bolsonaro o título de antidemocrático. Ex-ministro da Saúde de Dilma Rousseff e de Relações Institucionais de Lula, Padilha chegou a trazer aos governos petistas sua experiência com saúde indígena, uma das suas principais bandeiras de atuação como médico. A proposta para criar um ministério novo só para Causas Indígenas está sendo desenhada com a tinta da caneta de Padilha.
“A disputa no Brasil hoje não é só entre projetos diferentes e visões diferentes. É uma disputa entre quem respeita a democracia. De quem já ganhou de forma democrática e já perdeu de forma democrática e respeita a democracia”, diz o petista.
“O presidente Lula e o ex-governador Alckmin são o símbolo da união, que percebem que precisam estar juntos para defender a democracia e criar um clima no Brasil de diálogo, de respeito para que o Brasil se reerga e retome o ciclo de crescimento econômico e saúde das contas públicas”, afirma Padilha.
Ainda que em lados completamente opostos, as coordenações das duas principais campanhas na disputa pela Presidência da República traçam as estratégias que passam de uma ponta à outra da Esplanada dos Ministérios deixando claras características em comum. Não há proposta que não venha inflada de ataques, mesmo quando as falas são feitas de forma a transmitir tranquilidade e segurança ao eleitor, o único que de fato faz diferença neste processo eleitoral.