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Edição 60

A polícia da informação

Filha da censura e irmã do controle social da mídia, a agência de checagem tenta impor o pensamento único

Augusto Nunes

Branca Nunes

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Sepultada em 1976 pela revogação do Ato Institucional nº 5, a velha censura tentou sair da tumba com um nome espertamente rejuvenescido: controle social da mídia. Desmoralizada pela suspeita de que as redações seriam comandadas por bandos de franklinsmartins, e infestadas por jornalistas que odeiam a liberdade de expressão dos outros, foi enterrada como indigente. Em 2015, começou a escapar da cova rasa com um codinome que soa inofensivo: agência de checagem. Desta vez, os disfarces são menos mambembes, a metodologia é mais sutil. Mas rugas inconfundíveis escancaram a alma liberticida. Podem chamá-la de censura que ela atende.

Entre 1968 e 1976, a teimosa inimiga da liberdade de informação não ocultava a identidade e agia em forma de gente. Instalados nas redações de jornais e revistas, os censores liam todos os textos prontos para publicação armados de um lápis de cor. O X em vermelho berrante interditava páginas datilografadas que lhes parecessem desfavoráveis ao governo, e também trechos que aquele leitor onipotente considerasse misterioso demais. Na dúvida, invertiam o antiquíssimo preceito jurídico — e decidiam contra o réu. Algumas publicações trocavam o texto, outras preenchiam o espaço desocupado com versos dos Lusíadas ou receitas de bolo. Com o tempo, alguns censores agiam com o desembaraço de quem se sente em casa.

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